Quando a pandemia de coronavírus se alastrou, logo as fronteiras entre os países se fecharam. Foi assim que a brasileira Sophia Costa ficou isolada em uma ilha paradisíaca da Tailândia. Ela conta ao Quanto Custa Viajar como tem sido a experiência inusitada.
Há dois anos, Sophia estava vivendo em Buenos Aires, na Argentina, onde concluiu o mestrado em Direitos Humanos. De lá, partiu para um mochilão na Ásia, já sem previsão de voltar ao Brasil. “Meu plano inicial era passar um mês em cada país do Sudeste Asiático. Não calculei o tempo total da viagem, mas já havia planejado conhecer Vietnã e Tailândia”, disse.
Depois de fazer as malas, partiu para a loucura de Bangkok, que conquistou um lugar especial no seu coração. “Tem uma coisa no caos da capital que me atrai e combina com a minha alma. Bangkok tem surpresas a cada esquina, comida de rua baratinha e templos incríveis. Mal fui embora e já sei que vou voltar”, escreveu em seu Instagram.
Até março de 2020, o roteiro seguiu para as praias de Koh Phangan, Koh Tao e Krabi. A famigerada Phi Phi Island, que passou por estudos de controle de acesso no ano passado devido à superlotação e a devastação ambiental, nem estava nos planos de Sophia, mas o acaso acabou a levando pra lá.
Com a insistência de um amigo que fez durante a viagem, seguiu o caminho rumo a Phi Phi, até que a quarentena avançou mundo afora e ela não pode mais sair de onde estava. Ou seja, ficou “presa” num lugar concorrido, onde muitos gostariam de estar.
Até o momento, não há casos de coronavírus confirmados na ilha. “Em termos de segurança e também econômicos, fazia mais sentido eu ficar onde estava”, argumentou ela, que contou com o aval da família na decisão. Os amigos que fez pelo caminho também a ajudaram a ficar, porque assim sabia que teria com quem contar caso precisasse.
Apesar de não ter pessoas infectadas, a ilha paradisíaca na Tailândia está fechada e também com regras aplicadas à quarentena, que a princípio vai até o dia 30 de abril. É preciso sair com máscara, não andar junto a mais de cinco pessoas e respeitar o toque de recolher das 22h às 4h.
A rotina de Sophia em Phi Phi se resume a acordar cedo, ir à praia – que está a 10 passos do Airbnb que alugou – para a prática de yoga, tomar café da manhã, e checar os afazeres do dia com os amigos, porque mesmo em quarentena ainda dá para explorar as belezas da ilha.
“A ilha toda está mais bonita, mais limpa, com uma água incrível e praias desertas”
A jovem de 25 anos é uma viajante de carteirinha e trabalha remotamente com Business Intelligence, ou seja, mantém seu estilo de vida sem grandes segredos, tendo uma profissão como qualquer reles mortal. O expediente começa às 18h e vai até uma hora da manhã.
Embora esteja curtindo o paraíso, Sophia não ignora o que está acontecendo no mundo. Para manter a saúde mental em dia, ela acredita que manter uma rotina tem ajudado. “Além de trabalhar, eu também faço uma especialização, então ter uma rotina e alguns horários definidos me ajuda a conseguir me organizar. Tem sido super importante pra mim porque me traz uma noção de ‘normalidade’”, argumenta.
“Essa é uma experiência muito doida, surreal mesmo! Eu não seria tão criativa pra imaginar minha vida em um cenário como esse. Presa no paraíso, literalmente! Os roteiristas da minha vida estão de parabéns demais”
A viagem de Sophia
Quando se formou em publicidade, a brasiliense teve como tema para o Trabalho de Conclusão de Curso a transição para os cabelos crespos. O ensaio fotográfico que elaborou tinha como proposta a importância do cabelo na construção de identidade da mulher negra.
O que era para ser um livro se transformou na exposição fotográfica Raízes. Depois de percorrer três cidades do Brasil, foi parar na Alemanha. Sem grana para curtir esse pedacinho europeu, Sophia contou com uma vaquinha on-line de R$ 3.500,00 para cruzar o oceano junto com seu trabalho artístico. Assim nasceu a primeira viagem internacional de Sophia.
Foi apenas o primeiro passo para que ela colocasse a mochila nas costas outras vezes rumo a mais de 15 países em três continentes. No blog Pretas Pelo Mundo, ela incentiva outras pessoas a viajarem com ou sem companhia, em especial mulheres negras que por razões diversas acreditam que não pertençam ao mundo dos viajantes ou que não consigam realizar esse sonho.
“Por meio do Black Travel Movement, fazemos parte da diáspora africana que está redesenhando sua história e criando novos estilos de vida e maneiras de existir”.
Segundo Sophia, a questão é por vezes financeira e baseada na desigualdade social, que mina oportunidades. “O obstáculo maior está na distribuição de renda no Brasil, onde a maioria das pessoas em situação de vulnerabilidade são negras”, disse ao Quanto Custa Viajar. “A gente sabe que não é só questão de querer viajar, tem milhares de outros fatores envolvidos. Mas para as que podem e querem realizar seus sonhos, digo que não deixem o medo paralisá-las, porque ele sempre vai existir.”
Como viajante solo, nunca se sentiu sozinha. “Quando você viaja sem companhia, tende a estar mais aberta e receptiva e acaba fazendo muitas conexões pelo caminho”, explica. “Isso não significa que é sempre fácil e incrível! Existem várias limitações e estar tanto tempo entre as mesmas pessoas pode gerar conflitos. Mas estou aprendendo a viver em comunidade, respeitar o espaço do outro e me respeitar também”.
“Viajar sozinha significa muitas coisas, mas não significa estar só”
Para acompanhar a saga de Sophia na isolada ilha paradisíaca da Tailândia ou em qualquer lugar do mundo, basta seguir o perfil @whoisophia no Instagram.
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