Desde suas largas avenidas até as vielas estreitas e bagunçadas, o que se observa é um pouco do estilo de vida cubano, que é regado a boa música, pouca pressa, muito falatório e um bocado de malandragem. Ganhar um troco, qualquer que seja, virou o objetivo de quem está...

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Guia Havana

Desde suas largas avenidas até as vielas estreitas e bagunçadas, o que se observa é um pouco do estilo de vida cubano, que é regado a boa música, pouca pressa, muito falatório e um bocado de malandragem. Ganhar um troco, qualquer que seja, virou o objetivo de quem está de olho no turismo massivo que tomou conta da cidade nos últimos anos, aumentando as abordagens. Os homens ainda têm o velho hábito de assediar mulheres na rua, mas nada que uma ignorada não resolva.

A sensação de liberdade penetra na cabeça do turista a medida em que os dias vão passando. Andar só numa madrugada em avenidas mal iluminadas deixa de ser motivo de pânico. De maneira geral, as pessoas são pacíficas. Com os moradores desarmados e vigiados, Cuba não abre espaço para a violência irredutível da qual os brasileiros estão acostumados e num primeiro momento isso causa até estranheza.

Nas beiras do Malecón, a orla onde todos vão se refrescar do calor, se observa tudo isso, especialmente ao cair da noite. Andando por ela se encontram alguns fortes, que protegiam as margens de ataques piratas. Do lado oposto se observam casarões coloridos, poucos prédios e “cocotáxis”, veículo peculiar que é como um triciclo motorizado, geralmente mais em conta do que os táxis comuns.

Apelidada de “Ciudad de las Columnas (Cidade dos Pilares)”, Havana é bem conhecida pela arquitetura, que de fato já é uma atração à parte e fonte de encantamento. Os prédios estão, em sua maioria, sem a manutenção necessária, embora ainda estejam em pé. Quando vêm a desabar, o governo não investe em restaurá-lo ou reconstruí-los, erguendo uma praça (com acesso a wi-fi) no mesmo lugar.

Ainda assim, ali se preserva uma beleza pitoresca ora interessante, ora lamentável devido às condições que se encontram tanto a estrutura como as famílias que se amontoam lá dentro. É quase impossível não se recordar do Pelourinho, em Salvador, que poderia ser a irmã tupiniquim da cidade devido às várias semelhanças com a região.

Andar a pé no intocado Habana Vieja (Centro Velho) sem olhar no relógio é o melhor passeio a ser feito. É importante ter a curiosidade aguçada para descobrir lugares absolutamente mágicos, como farmácias do século passado, hotéis históricos, pátios e terraços escondidos. Facilmente escapa um (ou vários) sonoro “uau” durante esse passeio. Nos arredores estão exemplares de várias fases da arte, do colonial ao barroco, da Art Nouveau ao modernismo.

A jornada pelo patrimônio pode começar atravessando o Paseo del Prado rumo ao belo Capitólio Nacional, que permaneceu fechado por alguns anos e agora reabriu ao público. A antiga sede do governo sedia atualmente a Biblioteca Nacional e Academia Cubana de Ciências, permitindo apenas visita guiada por algumas salas. Na mesma calçada está o Gran Teatro e o Hotel Inglaterra.

Logo em frente se encontra uma porção de carros antigos em ótimo estado, com motoristas que oferecem carona, a um preço alto, o tempo inteiro para os turistas. Atravessando a rua está uma das melhores atrações culturais do país: o Museu Nacional de Belas Artes. Dividido em dois edifícios que formam dois núcleos distintos, reúne obras de artistas cubanos e internacionais. Parada obrigatória para conferir de perto o rico potencial artístico da ilha.

Seguindo por aquelas bandas se adentra nas movimentadas ruelas do centro, repletas de lojinhas, livrarias, bares, restaurantes, igrejas, conventos, hotéis, pequenos museus, monumentos, fontes e pracinhas charmosas. Há muito mais do que atrações tipicamente turísticas para ver, basta ter olhar atento e um bom mapa em mãos. Difícil mesmo é ter tempo para conferir tudo.

Vale a pena caminhar até a Plaza Vieja, rodeada de opções gastronômicas, e a Plaza de la Catedral, que rodeia a Catedral de San Cristóbal de la Habana. Na Plaza de Armas está o Castelo da Força Real, uma antiga fortaleza que reúne artefatos de guerra e do antigo domínio espanhol.

Outros dois lugares históricos se destacam: o Museu da Revolução e a Praça da Revolução de Havana, com dois murais dedicados aos revolucionários Che Guevara e Camilo Cienfuegos. Não há nada a se fazer por lá além de uma pausa para fotos. Logo em frente, do alto do observatório no Memorial a José Martí se vê todo o esplendor da cidade.

A cultura é um ponto bem forte de Cuba e em Havana ela se revela como em nenhum outro local do país. É quase palpável, porque parece que paira no ar. A presença de grupos musicais de boa qualidade por todos os cantos fortalece o cenário, deixando a cidade ainda mais vibrante. Salsa é o principal estilo, mas também dá para curtir um jazz, embora seja o foco de poucos endereços.

A viagem só fica completa, porém, com um passeio pelo elegante bairro Vedado. Ali se reúnem belas mansões neoclássicas, galerias, cinemas, muitos bares e restaurantes, além de hotéis famosos, como o Hotel Nacional de Cuba e o Hotel Habana Libre. Faça uma parada no Parque John Lennon, no Centro Cultural El Gran Palenque, na Universidad de La Habana e no escondido Museu de Artes Decorativas, casa em estilo francês que revela itens particulares belíssimos da condessa e mecena María Luisa Gómez-Mena. É também curioso o Necrópolis de Cristóbal Colón, maior cemitério das Américas, rodeado de mausoléus impressionantes em diversos formatos.

Saindo da rota tradicional, siga até Miramar, considerado até hoje o distrito mais chique de Havana. Arborizado, não por acaso reúne duas áreas verdes importantes, o Parque Almendares, ideal para famílias com crianças, e o Jardines de la Tropical, recheado de pavilhões exóticos que parecem ter saído de um conto de fadas. Igualmente inusitado é a Casa-Estudio de José Fuster, ceramista que se destacou por seus mosaicos coloridos e criações semelhantes às de Gaudí.

Os mais atrevidos podem ir ainda à Casa de Hemingway, a 10 km de Havana. Mas antes esteja ciente de que sequer poderá adentrar nos cômodos onde viveu o escritor beberrão. É permitido apenas que os visitantes espiem os cômodos pelas portas e janelas. Uma coisa triste para um lugar que tem tanta história a ser contada. Se quiser dar uma escapadinha da aridez de Havana, siga para as praias del Este, onde o mar cristalino e azul te espera.