Aos 48 anos, Glacy Moraes Machado encontrou sua verdadeira paixão: o naturismo. Ao se despir, ela diz ter aceitado seu corpo e mudado suas crenças. Desde então, vem compartilhando suas vivências e viagens naturistas através do Blog da Glacy, onde fala e mostra como é uma vida em que as roupas são opcionais.
Para compartilhar esse tipo de conteúdo, ela precisa de atenção redobrada para driblar as regras dos algoritmos de redes sociais, conhecidos por censurar com frequência imagens de nudez. “Tive que modificar as publicações para uma nudez não frontal, desfocar algumas fotos, seguindo conforme as regras do jogo nas redes“, brinca.
Glacy é a nova entrevistada da série “O mundo é delas“, em que nos propomos a contar histórias de mulheres incríveis que estão redefinindo o conceito de viagens de um jeito muito especial. Vamos nessa?
Viagens naturistas, por Glacy Moraes Machado
Equipe Quanto Custa Viajar – Como você conheceu o naturismo e há quanto tempo é adepta deste estilo de vida?
Glacy Moraes Machado – Conheci o naturismo indo visitar um clube naturista chamado Colina do Sol, aqui bem perto de Porto Alegre/RS, mais ou menos 70km de distância da capital gaúcha.
Praticamente fiquei adepta do naturismo naquela primeira visita. Pensei em voltar outra vez, e voltei diversas vezes, até tomar a decisão de morar no clube, tipo ‘é isso que eu quero para minha vida’. Já se vão 22 anos que eu encontrei o meu lugar no mundo.
QCV – O que o naturismo representa hoje na sua vida e em suas viagens?
Glacy – O naturismo me representa. Iniciei viajando para outros estados representando o Clube Naturista Colina do Sol nos encontros de naturistas da Federação Brasileira de Naturismo.
Logo em seguida aceitei um convite para conhecer destinos naturistas europeus, se sucederam outros convites para viajar e, eu passei a colaborar com o site Brasil Naturista, fotografando e escrevendo o blog. Viajei pela América do Sul de motorhome. Fui para o Leste Europeu, Grécia, África do Sul, Austrália e Israel.
QCV – Sente que as pessoas ainda interpretam a nudez de maneira equivocada?
Glacy – Não, eu sinto que tem pouca informação, muitas delas distorcidas.
Credito isso a falta de conhecimento, porque o movimento naturista surge na Alemanha, no final do séc. 19, como cultura do corpo livre, com enorme adesão das pessoas, principalmente as que cultuavam um corpo saudável, buscando lugares ensolarados como parques, rios e praias, para ficarem nuas.
QCV – Falando nisso, já teve algum problema com as redes sociais por compartilhar fotos em que você e outras pessoas aparecem nuas? Facebook e Instagram têm políticas bastante restritivas nesse sentido, com casos até mesmo de exclusão de fotos de mulheres amamentando ou de estátuas…
Glacy – Sim, eu fui várias vezes bloqueada no Facebook e tive fotos retiradas do Face e do Instagram. Tive que modificar as publicações para uma nudez não frontal, desfocar algumas fotos, seguindo conforme as regras do jogo nas redes.
Para aqueles que desejam maiores informações, eu publico no blog reportagens e fotos dos locais onde são permitidos a pratica da nudez.
QCV – Em seu blog e através do Instagram, você costuma falar sobre experiências de viagem em diversos lugares do mundo. Há roteiros pelo Brasil, Oriente Médio, Europa… O que mudou na sua forma de viajar após aderir ao naturismo?
Glacy – Os destinos naturistas se tornaram meu foco, procuro sempre buscar lugares inusitados, muito frequentados ou nem tanto pelo público.
E faço o turismo tradicional nas cidades históricas que eu encontro no trajeto por perto, ampliando assim minhas viagens e conhecimento de outras culturas.
QCV – Já que estamos nesse assunto… Como você enxerga a cena naturista no Brasil em comparação com outros países?
Glacy – O Brasil em comparação com países como a França e Croácia, que são grandes referências de áreas naturistas, pode se dizer que tem pouca expressão. Tendo em vista nosso imenso litoral, contamos com apenas 8 praias, mas as poucas que temos dão conta do público naturista brasileiro e são bastante procuradas por naturistas estrangeiros por suas belezas.
Tambaba, na Paraíba, e Pinho, em Santa Catarina, são as mais frequentadas pelos naturistas.
QCV – Então aproveita e conta pra gente: qual o seu destino naturista preferido?
Glacy – Fora do Brasil sem dúvida é Barcelona, na Espanha, as praias ficam no centro da cidade, de muito fácil acesso. No Brasil, o Clube Naturista Colina do Sol por agregar valores ao naturismo, como poder morar, visitar, possuir uma área com lago, piscinas, restaurante, cabanas e hotel. Conta com uma infraestrutura melhor que outros locais similares na Europa para quem quer praticar o naturismo.
QCV – Para finalizar, gostaria que você compartilhasse algumas dicas com quem pensa em aderir ao naturismo, mas ainda não sabe exatamente por onde começar a buscar informações sobre locais nude-friendly.
Glacy – A primeira decisão é consigo mesmo, aquilo de ‘quero experimentar, mas tenho vergonha‘. Vá mesmo assim, a vergonha não dura mais que dez minutos. A receptividade é muito grande por parte dos naturistas para que as pessoas fiquem à vontade ao natural.
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Observe as regras do naturismo, aja com naturalidade, dispa-se das suas roupas e usufrua da sensação de liberdade que esta experiência lhe proporcionará.
Pesquise um lugar próximo de onde você mora ou próximo de um destino de viagem. Por exemplo, para quem vai para o Nordeste, perto da capital João Pessoa tem Tambaba, para quem vai para Punta del Leste, no Uruguai, tem a praia de Chihuahua.
Veja outras entrevistas da série “O mundo é delas”:
- Minimalismo e viagens, com Caroline Abreu
- Turismo sustentável, com a Ana Duék
- Festivais de música pelo mundo, com Gracielle Fonseca e Priscila Brito
- Viajar sozinha, com Mariana Bueno
- Turismo acessível, com Suelen Almeida
- Os desafios de ser uma viajante negra, com Cecília Rosário
- Turismo LGBT, com Fabia Fuzeti e Gabi Torrezani
Belas explicações desta mulher maravilhosa.
Legal glacy! Parabéns pela matéria