Aline Rocha, ou simplesmente Nina, foi criada entre panelas. Cozinheira, viajante e jornalista, ela uniu as três paixões em uma casa virtual, o blog Sem Pressa de Voltar, onde relata suas andanças comilonas pelo mundo.

A vontade de desbravar sabores e destinos é tanta que ela não vê problemas em jantar duas vezes quando está viajando. Afinal, como Aline mesmo define, “turismo gastronômico não é sobre comer pra matar a fome, é sobre encontrar na comida os pontos turísticos mais interessantes dos destinos“. Dá para discordar?

Aline é a nova entrevistada da série “O mundo é delas“, em que nos propomos a contar histórias de mulheres incríveis que estão redefinindo o conceito de viagens de um jeito muito especial.

Turismo gastronômico, com Aline Rocha

Quanto Custa Viajar – Além de jornalista, você também é cozinheira. Como surgiu a ideia de unir essas duas paixões?

Aline Rocha – O amor pela comida veio de família. De amassar pão com a mãe antes de saber escrever, de olhar o pai pendurando linguiças artesanais na garagem de casa em cima de onde eu brincava, de ver a avó cortando macarrão com carretilha.

Mesmo tendo me formado em jornalismo, eu sempre soube que esse amor me acompanharia, eu sempre tinha aquela pulguinha que me dizia que a minha história estaria ligada à gastronomia de alguma forma. Decidi, então, me aventurar nas panelas. Fiz um curso de cozinheira, aprendi técnicas, ingredientes e receitas, mas descobri eu não tinha o perfil pra trabalhar em uma cozinha.

Aline provando um éclair, em Paris

Quando as viagens se tornaram mais frequentes, e quando os roteiros passaram a ser cada vez mais em torno da comida, entendi que a escrita poderia unir o amor pelas viagens e pela comida em um só lugar – o Sem Pressa de Voltar.

QCV – E quando foi que a comida passou a ser um ponto importante no planejamento de suas viagens? Ou ela sempre foi fundamental na sua experiência de viajante?

Aline – Começou na primeira viagem que fiz com o meu marido (que também é cozinheiro), em 2014. Foi aí que ganhei um companheirão pra chegar em um restaurante e pedir várias coisas diferentes, pra experimentar as comidas típicas dos lugares, pra dar uma garfada e discutir como teria sido feito, pra passar horas em mercados gastronômicos. Foi a descoberta de uma nova paixão que aconteceu em dupla.

Descobrindo as especiarias no Marrocos

QCV – Há alguns meses você viajou pelo Marrocos e Portugal e aproveitou para realizar workshops gastronômicos nos dois países. Conta pra gente como foi essa experiência!

Aline – Buscar esse tipo de atividade foi a minha melhor descoberta de 2019! Eu sempre achei que viagens se tornavam mais interessantes quando o dinheiro é gasto com experiências em vez de compras, mas colocar no roteiro um curso ou workshop faz a relação com a gastronomia local ganhar outro patamar.  

É uma maneira de ter um contato mais íntimo com a culinária local e também uma oportunidade de aprender a reproduzir em casa os pratos que tanto amamos conhecer.

Em Portugal fizemos um tour pelos doces do país, então entrar na cozinha de uma confeitaria conceituada de Lisboa pra aprender o mais icônico deles foi muito marcante.

Lx Factory é o pedaço mais cool de Lisboa

Pastel de Belém, em Lisboa

No Marrocos fizemos um curso de culinária em uma fazenda orgânica. Saímos das ruas laranjas de Marrakech e chegamos em uma propriedade cercada pelo verde. A cultura gastronômica do Marrocos é muito rica, cheia de histórias e tradições. Aprender todos os significados por trás dos pratos que vínhamos comendo há alguns dias foi a melhor experiência que vivemos nesse país tão diferente do nosso.

QCV – Já mudou algum roteiro, incluindo ou descartando cidades, motivada apenas pela comida?

Aline – Sim, diversas vezes! Quando eu estava fazendo o roteiro de Lisboa perguntei em um grupo de portugueses quais eram os restaurantes que eles mais indicavam no país. Não foram poucas as pessoas que recomendaram o Zé Manel dos Ossos, em Coimbra.

A cidade não estava em nosso roteiro, mas decidi incluí-la porque a curiosidade foi grande. Chegamos à noite por lá e o restaurante que ficava em uma ruela já estava lotado e com algumas pessoas esperando na porta que diziam que naquela noite provavelmente ninguém mais conseguiria comer. Felizmente conseguimos uma mesa e tivemos um dos melhores jantares da viagem. Seguir indicações de locais sempre vale a pena!

Workshop de gastronomia no Marrocos

Meu próximo destino é o Peru. Acha que vou ir pra Machu Picchu? Que nada, vou ficar só em Lima comendo tudo que a cidade oferece. Também excluí um tour pelo deserto do Marrocos porque isso significaria perder dias em Marrakech, onde haviam vários restaurantes que eu queria conhecer.

QCV – Nessas andanças pelo mundo, qual foi a gastronomia que mais te conquistou? E quais os pratos que preferia nunca ter provado?

Aline – Não é somente em outros países que encontramos diferentes identidades gastronômicas. Um dos lugares que mais me surpreendeu na vida foi Belém do Pará. Sou do Rio Grande do Sul, então ser apresentada aos ingredientes da Amazônia foi muito marcante.

O que mais busco em minhas viagens é descobrir sabores que ainda não conhecia. E Belém foi campeã nesse quesito com todo seu tucupi, maniçoba, açaí, taperebá e bacuri.

5 motivos para conhecer Belém do Pará o quanto antes

Mandioca, em Belém

Também me apaixonei perdidamente pelo tempero jamaicano. Viajamos o país de uma ponta a outra e foi incrível perceber todas as influências e nuances de sabores que a ilha do Caribe oferece…

Confesso que têm algumas comidas que não gosto, como ostra viva, escargot e foie gras. No Marrocos, existe uma famosa comida de rua chamada babouche, uma sopa de caracóis. Provei o caldinho pra sentir o tempero, mas os bichinhos eu não consegui.

Sempre tento experimentar de tudo, mas alguns pratos não passam na garganta da blogueirinha de gastronomia. Já provei morcego, jacaré, avestruz e cabra, mas se você me der ervilha enlatada eu com certeza vou torcer o nariz.

QCV – Para finalizar, gostaria que você compartilhasse algumas dicas de como pesquisar e organizar roteiros gastronômicos pelo mundo. Quais são as suas maiores referências na hora de planejar um itinerário?

Aline – Eu não criei o blog por acaso, esse é o veículo que mais gosto de utilizar quando estou pesquisando os meus roteiros de viagem, blogs são sempre os primeiros da fila. Depois de anotar alguns nomes de lugares, sigo para o Tripadvisor pra ver o que o público fala de cada um e encontrar mais alguns bem populares.

Provando uma Turkey Leg, na Disney

Um aplicativo que funciona bem por geolocalização, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, é o Yelp. Com ele você pode ver os restaurantes mais bem avaliados próximos à onde você está.

Também gosto de ler publicações locais focadas no assunto e pesquiso no Instagram os perfis de gastronomia dos destinos. Aliás, pra quem curte ver as fotos das comidas antes de chegar nos restaurantes, o Instagram é uma ótima pedida.

Faço também uma lista com as comidas típicas, pra ir dando um “check” conforme vou experimentando os pratos. E nada de descartar a comida de rua e restaurantes mais populares. Geralmente é ali que encontramos o verdadeiro sabor local.

Depois de toda a pesquisa, a lista de lugares que quero ir é sempre maior do que os dias que tenho. Almoçar e jantar duas vezes? Porque não? Turismo gastronômico não é sobre comer pra matar a fome, é sobre encontrar na comida os pontos turísticos mais interessantes dos destinos.

Passeando pelo Vale dos Vinhedos, na Serra Gaúcha

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2 comentários

  1. Adoro todas as comidas e os roteiros que a Aline publica no Sem Pressa de Voltar! Mas confesso que não teria coragem de provar muitas delas.

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