Sabia que a apenas 43 km de São Paulo está uma importante cidade histórica do país? Foi a partir de Santana de Parnaíba que se deu início as expedições bandeirantes, responsáveis por expandir o território durante o Brasil colônia. Hoje é um município cheio de charme e clima de interior.

Fundada às margens do rio Tietê no século 16, a região de Parnahyba — nome que significa “rio não navegável” devido à uma queda d’água próxima, era ocupada por aldeias de povos indígenas, assim como as vizinhas São Roque, Araçariguama, Cajamar, Pirapora do Bom Jesus, Barueri, Franco da Rocha e Caieiras.

Em meados de 1552, o português Manuel Fernandes Ramos se casou com a miscigenada Suzana Dias, filha de índia com português. Eles tiveram 17 filhos. Com a morte do marido, a matriarca e o filho, André Fernandes tomaram posse do território e instalaram uma fazenda às margens do Rio Anhembi, hoje conhecido como Rio Tietê. 

A partir de então começaram as expedições sertanistas lideradas pela família rumo ao oeste paulista e ao Mato Grosso, na companhia de indígenas convertidos ou ameaçados. 

Foram os filhos de Suzana que fundaram Itu e Sorocaba, de um jeito nada diplomático, afinal, as terras já eram ocupadas por aldeias, com jazidas de metais preciosos nos arredores. Sabe-se que as expedições bandeirantes foram responsáveis por boa parte do genocídio indígena no país.

Prestes a completar 449 anos de fundação, a cidade se orgulha de ser berço dos bandeirantes. Foi ali que nasceram personagens históricos como Raposo Tavares, Bartolomeu Bueno da Silva (o Anhanguera), Borba Gato e Domingos Jorge Velho. Nascido em São Paulo, Fernão Dias foi morar lá também.

O povoado se transformou em vila em 1625, já se assumindo como município. O nome se transformou em Santana de Parnaíba como devoção à Santa Ana, representando também o poder da igreja católica na época. A igreja matriz, localizada na praça central, leva seu nome. 

Com uso e distribuição de mão de obra oriunda de exploração indígena, e mais famílias ricas se aproximando, a região se desenvolveu um pouco nos séculos 17 e 18, mas continuava sofrendo com o isolamento. Foi só no século 20, com a chegada da a Light & Power Company e a construção da primeira usina hidrelétrica no país, que Santana de Parnaíba se viu diante de um desenvolvimento econômico.

A antiga “Cachoeira do Inferno”, que deu origem ao nome Parnahyba, foi então transformada na Barragem Edgard de Souza. A chegada de novas empresas com a expansão da vizinha Alphaville também fez com que o município crescesse. 

O que fazer em Santana de Parnaíba

Da paisagem urbana na região central, pouco mudou. O clima de nostalgia se dá pelas ruas de paralelepípedo e pela arquitetura repleta de casarios bem preservados. Atualmente apresenta o maior conjunto colonial tombado do Estado de São Paulo, com 209 edificações dos séculos 16 a 19.

O passeio para observá-las é um dos principais atrativos turísticos. A Igreja Matriz de Santa Ana foi erguida em estilo eclético no ano de 1882. Antes era nada mais do que uma singela capela de pau-a-pique e folhagens em 1560, dedicada à Santo Antônio. Cerca de 20 anos depois, foi reconstruída e passou a ser devota de Santa Ana, a pedido de Suzana Dias. 

Foto: divulgação/Prefeitura de Santana de Parnaíba

Há detalhes que capturam o olhar do turista. Na antiga delegacia, um sino ainda se mantém na porta. Era usado para indicar o toque de recolher durante a noite, para manter o silêncio e a ordem na cidade. 

O Museu de Anhanguera presta homenagem ao Monsenhor Paulo Florêncio da Silveira Camargo. A única construção bandeirista em taipa de pilão e pau-a-pique em ambiente urbano reúne em seu acervo objetos que eram de uso dos bandeirantes e narra o cotidiano dos personagens. 

Um dos prédios mais charmosos é, sem dúvidas, o Cine Teatro Coronel Raymundo, o primeiro cinema da cidade, fundado entre 1880 e 1910. Depois de ficar 20 anos fechado, hoje volta a brilhar como centro cultural. 

Foto: Dornicke

Outros pontos para olhar é o Museu Parnaibano de Música “Benedicto Antônio Pedroso”, o Coreto Maestro Bilo, a Casa do Patrimônio, remanescente do Mosteiro de Nossa Senhora do Desterro e o Monumento aos Bandeirantes, logo na entrada de Santana de Parnaíba.

Em seu legado rural, a cidade teve grandes fazendas de produção de trigo, chegando a ser no século 17 o principal moinho de farinha consumida no Brasil e em Portugal. Atualmente há apenas a Fazenda Itahyê, que pertenceu à família Byington e agora se dedica à criar uma comunidade planejada de alto padrão, além de produzir alimentos orgânicos. Há ainda outra fazenda na região em processo de adequação turística.

Com o tempo, Santana de Parnaíba se tornou referência em cachaça. O roteiro passa por pelos tradicionais engenhos Caninha do Moraes, Engenho do Osíris e Caninha Parnaíba. 

Foto: divulgação

A cidade também é ponto de partida para aventuras. Há travessias que levam até o Morro Voturuna, antigo ponto de partida dos bandeirantes, na divisa com Pirapora do Bom Jesus.

Outra opção a ser feita é o Caminho do Sol, trajeto de 241 quilômetros de peregrinação feitos a pé (11 dias) ou de bicicleta (3 a 4 dias) a partir de Santana rumo aos municípios vizinhos: Pirapora do Bom Jesus, Cabreúva, Itu, Salto, Elias Fausto, Capivari, Mombuca, Arapongas, Piracicaba e Artemis.

Entre os principais eventos da cidade, há dois opostos: o folclórico Carnaval, com origem africana, boneco cabeçudos e nuances fantasmagóricas; e os coloridos tapetes da procissão de Corpus Christi.

Caminho de peregrinação conta com sinalização inspirada em Santiago de Compostela
Foto: divulgação

Onde comer

Ao redor da Praça 14 de novembro se concentram muitos bares e restaurantes. Um dos mais conhecidos é São Paulo Antigo, restaurante que ocupa uma charmoso casarão do século 18, com buffet de comida mineira.

Foto: divulgação

Mais boêmio, o Bartolomeu Restaurante e Bar serve nas mesas na calçada não só a cerveja gelada, mas pratos como o filé à cubana, rabada, picadinho, carne seca desfiada com purê de abóbora, couve e arroz, e salmão ao molho de maracujá.

Para um cafezinho, recorra ao charmoso Jardim da Anna, cafeteria sediada num casarão com jardim acolhedor. Na hora de ir embora, vai deixar saudades.

Foto: divulgação

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