Passei boa parte da vida ouvindo falar no tal Ponto Gê. Era tema de revistas, debates, piadas e até pesquisas. Mas o que muita gente ainda não sabe é que em Brumadinho, cidade mineira que serve como porta de entrada para o Instituto Inhotim, está um segredo bem guardado. É ali que está o Ponto Gê do mundo, um restaurante de comida afetiva e criativa, capaz de despertar sensações quase sexuais, mas fora da cama.

Comer é verdadeiramente um dos maiores prazeres terrenos. É o pecado mais gostoso. E no restaurante comandado pela simpática Genilda Delabrida e por sua família, você realmente só entende o nome no final da refeição, quando vem aquele orgasmo gastronômico proporcionado por uma refeição sem firulas e deliciosa.

Foi na casa onde nasceu que ela transformou em restaurante para receber, cheia de simpatia e alegria, as pessoas que exploram os cantinhos da cidade. Ali estão seus 51 anos de história. Passando um corredor apertadinho, que não é proposital, você encontra o salão decorado com toalhas de chita e um agradável jardim. Na mesa dá pra ouvir um sonoro “hmmmmm“.

Ela atuava como professora, mas a vocação para cozinhar veio cedo. Nas horas vagas, tratava de ajudar amigos e familiares a organizarem suas festas. A Gê colocava a mão na massa e com o tempo sua culinária foi ganhando alguma fama. “Eu já cozinhava antes pra todo mundo. E de graça. Mas fazia porque eu gostava”, me contou.

Em 2014, a vida lhe pregou uma peça, o maior dos sacrifícios de uma mãe. Sua filha Maria Luísa contraiu uma pneumonia bacteriana e faleceu precocemente, aos 19 anos. Deixou um rastro de saudade, um vazio onde Gê ficou imersa. A aceitação de que tudo é finito e passageiro custou a chegar. “Eu não aceitava. Fiquei numa revolta. Achei que eu não ia sobreviver a isso. Precisei entender que a vida é um ciclo e nós temos um período a cumprir.”

Um ano se passou e no final de 2015 o Ponto Gê não apenas se abriu, mas desabrochou uma nova versão de sua chef. No fogão ela encontrou um refúgio para suas dores, uma inspiração para suas criações inusitadas e retomou o prazer de cozinhar. As influências gastronômicas passam pela Bahia, Ásia e Oriente Médio, onde especiarias dão toque especial aos pratos.

Quando estive por lá para um jantar, a variedade era grande, assim como a minha curiosidade em provar coisas das quais eu nunca nem tinha ouvido falar. Entre os pratos mais comuns, tinha vaca atolada, farofa com ovos e cebola, tomate confitado, chips de inhame, costelinha de porco, pernil de lata, linguiça caseira (que está na família há mais de 100 anos) e tutu de feijão.

O sabor agridoce é presença marcante na mesa, como se vê nas seguintes opções inovadoras: sopa de pêra com ungu e castanha de caju, sopa de limão siciliano com cenoura e amêndoas, banana com pimenta biquinho e morango, chuchu confitado no azeite de alfazema e alecrim, repolho roxo na redução de aceto e tâmaras, espuma de couve-flor, vatapá de manga com coco fresco, espaguete de mamão e arroz de coco. Entre os planos da Gê está o de vender potes de doce de leite sem açúcar, que sua mãe fazia.

Isso tudo foi apenas um dia de jantar no Ponto Gê. O menu é variado, sem pratos fixos e tem um ótimo custo-benefício: R$ 40,00 por pessoa para se esbaldar à vontade. Não inclui bebidas, mas se quiser uma sugestão, peça a mistura de limão, capim cidreira e manjericão, com ou sem álcool. Um refresco após a experiência de lambuzar os dedos.

No final das contas, ela me confessou que seu sonho é conhecer o renomado e estrelado chef Alex Atala. Mas é ele quem deveria alimentar a vontade de descobrir, afinal, onde é o Ponto Gê.

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Fotos: Brunella Nunes

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