Antigamente, quem saía de seu próprio país por questões adversas era chamado de imigrante. Hoje, muitos são vistos como refugiados. Mas o que os distinguem, afinal? O Museu da Imigração em SP dedica todo seu acervo e pesquisa aos fluxos migratórios, que deram origem a tantos povos.
O local, com direito a trem na porta, é a antiga hospedaria do Brás, que ao longo dos séculos 19 e 20 recebeu pessoas de mais de 70 nacionalidades. Assim que a escravidão foi abolida no Brasil e as guerras mundiais aconteceram, houve um incentivo (ou seria desespero?) para trazer novos trabalhadores braçais e, talvez, investidores ao país.
Assim, um total de 2,5 milhões de pessoas transitou pelo edifício da sempre promissora São Paulo entre os anos de 1887 e 1978. Os estrangeiros recém-chegados no Porto de Santos seguiam até a estação que para, até hoje, na porta da hospedaria, criada pelo governo.
Ali recebiam assistência e acolhimento por até seis dias. O espaço fichava cada um dos imigrantes e encaminhava parte deles para oportunidades de emprego, além de oferecer alojamento. Havia, no enorme complexo, outros serviços que colaboravam com os novos moradores, como correio, telégrafo, médicos, dentistas, farmácia, lavanderia e refeitório.
Migrar é um fenômeno permanente.
Os migrantes, ou seja, pessoas oriundas de outros estados brasileiros, começaram a ser aceitos na hospedaria a partir de 1930. As atividades seguiram assim até a década de 70, quando recebeu pela última vez um grupo de imigrantes coreanos.
O edifício foi tombado nos anos 1980, mesmo período em que se tornou um espaço histórico-cultural. Entre 2010 e 2014 passa por restauro e reestruturação, sendo reaberto como Museu da Imigração, substituto do nome Memorial do Imigrante.
A função de hospedaria foi repassada para os Centros de Acolhida para Imigrantes, localizadas nos bairros Pari, Bom Retiro, Bela Vista e Penha.
O Museu da Imigração hoje
Existem duas alas no Museu da Imigração em SP: uma com exposição de longa duração e outra temporária. Ambas contam com recursos interativos e tecnológicos, tornando a experiência mais acessível para diversos tipos de público.
Na mostra fixa, que pode durar por muitos anos, podemos resgatar o início da história da humanidade desde a primeira origem dos fluxos migratórios, que teve início na África. Há bastante informação em painéis de vídeo, até mais do que textos.
Tome nota: uma locomotiva de 1922 parte do Museu da Imigração aos sábados, domingos e feriados para um passeio diferente sob os trilhos. As viagens são de hora em hora e custam R$ 25 por pessoa.
Informações sobre a escravidão, a formação das civilizações modernas, a vinda e ida de imigrantes e seus impactos na nossa sociedade, seja na economia, na cultura ou na gastronomia. Fotos históricas e objetos cotidianos nos ajudam a remontar no imaginário como era viver naqueles tempos, tão perto e tão longe.
Há relatos de várias pessoas, de diversas idades e nacionalidades, para assistir. Carregadas de emoção e memórias afetivas, transmitem a mensagem que parece óbvia a essa altura do campeonato mas que sempre precisa ser reforçada: somos um país miscigenado, formado por várias peças de um quebra-cabeça e alguns corações partidos, afinal, partir de seu lugar de origem não é das tarefas mais fáceis.
Várias gavetinhas guardam memórias. Ao abri-las se revelam cartas e documentos daquelas famílias que até hoje formam o Brasil. É um dos recursos mais bonitos do Museu da Imigração, entre tantos outros. Uma enorme parede de madeira com inúmeros sobrenomes entalhados intriga os visitantes, que ficam bons minutos parados em frente, reconhecendo a si mesmos, aos colegas e amigos.
Se quiser ir ainda mais afundo na história da família, procure pelo Centro de Preservação, Pesquisa e Referência, no térreo. Lá é possível pesquisar sobre seu sobrenome e até verificar se alguém da família passou pela hospedaria antigamente.
É curioso descobrir também que nem todos os imigrantes hospedados foram embora. Ao sair da exposição principal, pode ser que você seja abordado pelo gentil e educado funcionário da porta. “Notaram algo de diferente nas salas?”, ele pergunta. “Tem gente que sempre vê as mesmas pessoas aqui, uma mulher toda de branco sentada na cama e uma criança correndo”.
Não se trata de uma performance, mas de espíritos. Lamento e digo que queria ter visto, mas ele ri e me alerta: “eu já vi algumas vezes e posso dizer que quando acontece…muda muita coisa na vida, viu!”. A mudança é assim mesmo, chega para quem ousa enxergar algo (do) além.
Brunch no Museu da Imigração
Uma charmosa cafeteria com deck no jardim acolhe o saboroso brunch no Museu da Imigração, servido apenas aos sábados, domingos e feriados. Depois de ser terceirizada, foi batizada de Cantina, tendo mais opções e, de combo, preços mais salgados.
O café artesanal é servido em métodos variados, do básico espresso (R$ 6) até o V60, que é semelhante ao coado. Entre as opções do brunch, vale a pena pedir o Rancheiro (R$ 24), pão – feito na casa – com ovo mole, queijo e chilli. É bem servido e gostoso.
O pão caseiro pode ser acompanhado também de linguiça, cogumelos e espinafre. Se a fome for menor, o queijo quente (R$ 14) dá conta do recado.
Infelizmente não cabem elogios ao bolo de banana, que estava mais seco do que o deserto. Um pecado para quem quer um café da manhã completo e um pecado maior ainda para uma cafeteria comandada pelo mesmo chef, Fellipe Zanuto, do restaurante Hospedaria, quase vizinho do museu e com comida bem feita, inspirada na cozinha de imigrantes.
Outro ponto que precisa ser revisto é que tudo é servido em itens descartáveis: copo de papel, talheres e pratos de plástico. Facilita a vida da turma na cozinha, mas gera mais lixo e dificulta o corte do pão, por exemplo, ou o ato de pegar uma bebida quente.
Há também outras comidinhas no menu, como pão na chapa, pão de queijo, coxinha, tortas, waffle doce, cookies e bowl de iogurte. É bom para quem acorda tarde, porque vai das 9h às 17h. Escolha uma mesa na área externa para observar o belíssimo jardim do Museu da Imigração e suas árvores centenárias.
Como chegar
O Museu da Imigração de SP fica na R. Visc. de Parnaíba, 1316 – bem na divisa entre Mooca e Brás. A estação mais próxima é a Bresser-Mooca, linha vermelha do metrô.
Funciona de terça a sábado, das 9h às 17h, e aos domingos das 10h às 17h.
Preço da exposição: R$ 10 / R$ 5 (meia-entrada); gratuito aos sábados. As áreas de convivência da instituição possuem acesso livre.
♿ acessibilidade alta | 🚇 próximo a transporte público | 💼 possui guarda-volumes | 🍴 tem lugar para comer