Apesar das aparências, visitar um país em crise econômica não significa que você gastará menos. Exemplo disso está aqui, ao nosso lado. Com a moeda desvalorizada, muitos brasileiros acham que farão uma viagem barata para a Argentina, mas tome nota: tal mito não se sustenta na hora de colocar as contas na ponta do lápis.

Antes de tudo é preciso entender como funciona a regulamentação do mercado. Você não precisa se tornar nenhuma especialista da noite para o dia, porém, a primeira coisa a ter em mente é que crise econômica desequilibra as finanças e impulsiona a taxa de inflação alta – atualmente acima de 50% -, aumentando o nível dos preços  – a longo prazo, inclusive, pois vai subindo de forma generalizada, chegando a elevação da taxa de juros, da especulação e do desemprego.

Quem sofre no bolso tais efeitos é, a princípio, a população local. Mas não pense que os turistas tampouco escapam dos sintomas e das frágeis consequências da economia. A medida em que a moeda perde seu valor, os comércios tratam de aumentar seus preços, afinal, é preciso ainda assim manter o lucro. Os reajustes são constantes e instáveis.

Peso despenca expectativas de viagem barata para a Argentina

Outro ponto a ser levado em consideração nessa matemática é que quanto mais fraca uma moeda fica, mais o dólar aumenta. E quem controla os preços das passagens aéreas, por exemplo? O dólar, que regulamenta o preço da querosene que alimenta as aeronaves. Aliás, entenda mais sobre o tema nesse post aqui, que explica os pormenores da questão.

A inflação e a alta do dólar prejudica o poder de compra, implicando diretamente na suposta “vantagem” da conversão cambial.

A editora do Quanto Custa Viajar, Amanda Santiago, fez um levantamento rápido em relação aos tickets aéreos para Buenos Aires e constatou o seguinte: “de maneira geral para o turismo, o que verifiquei é que as passagens estão com o preço de sempre. Na verdade até um pouco elevados, pois a passagem é sempre cotada em dólar, que aqui está nas alturas. A média é de 850 até 1200 reais, dependendo da data”.

Em termos de hospedagem, o que verificamos nas pesquisas é que uma diária casal em hotel com boa reputação e boa localização está saindo em média 280 reais (com café da manhã). Para quem quiser fazer as contas, recomendamos fazer uma simulação no Booking.com ou na página de passagens aéreas do Quanto Custa Viajar. Os gráficos do Google mostram exatamente isso: que os preços não se alteram muito entre R$ 800 e R$ 1.300 para os próximos 30 dias.

Na instabilidade, todos os produtos e insumos que têm custo baseado em dólar acabam deixando os comerciantes de cabelos em pé. Hoje, US$ 1 equivale a $ 60,14 na Argentina. Um dos principais nichos afetados é o da tecnologia, com celulares subindo seus preços a exorbitantes 40%. A conta fica tão complicada para os locais, que absolutamente tudo passa por uma alteração de valores, da farinha até o pão que você vai comer em Buenos Aires, conforme mostra a matéria da Exame. É uma reação em cadeia, digamos assim.

A crise acaba chegando em um dos bens mais preciosos da Argentina: a carne. Desde abril de 2018, os preços vêm subindo a ponto de torná-la cada vez mais ausente na mesa dos moradores. As vendas despencaram desde que os custos chegaram a subir a 67%, resultando no grupo alimentício que mais encareceu nos últimos tempos, conforme revelou o Estadão. E é óbvio que nos restaurantes os preços também não estarão amigáveis. Ou seja, mais um item caro na conta do viajante.

O jornal Folha de São Paulo também fez uma matéria sobre o peso e a inflação na Argentina, apontando que cerca de 300 pontos gastronômicos fecharão as portas na capital portenha, segundo projeção da Câmara de Restaurantes e Associação de Hotéis, Restaurantes, Confeitarias e Cafés de Buenos Aires. Em julho, a tradicional confeitaria Rond Point, na ativa há 40 anos, enviou um comunicado público afirmando que entraria em reforma, mas não informou uma data de retorno.

Foto: divulgação/Rond Point

O período eleitoral é mais um fator que não colabora com uma viagem barata para a Argentina. De maneira geral, este intervalo de tempo mantém os investidores bem apreensivos. Com o resultado das eleições primárias, apontando o retorno da era Kirchner (visto que Cristina é a vice do candidato Alberto Fernández), a economia recuou consideravelmente, enfraquecendo ainda mais o peso argentino em relação ao real brasileiro, que chegou a cair em torno de 25%.

É impossível que tais condições não se reflitam nos custos de uma viagem. Portanto, não há como os valores despencarem para os brasileiros, que estão numa situação econômica igualmente ruim, embora não no mesmo nível. Se o nosso vizinho latino americano vai mal, pode ter certeza que dificilmente tiraremos vantagem disso.

Quem já tem viagem marcada para Buenos Aires pode driblar um pouco a situação. Uma das medidas sugeridas por especialistas é que os brasileiros troquem a moeda antes de viajar e paguem tudo em dinheiro, evitando o cartão de crédito, que fica sujeito à cotação da moeda americana.

Além disso, é bom já viajar com boa parte das coisas pagas antecipadamente, evitando a flutuação dos preços ou as dívidas. Também é recomendável balancear as refeições mais caras do dia, reduzir ou eliminar os gastos que não sejam fundamentais, como o uso de táxi, a compra de souvenir e passeios guiados.

Enquanto o dólar não der uma trégua nem aqui, nem acolá, os brasileiros realmente não terão grandes vantagens em relação à moeda. Mas “don’t cry for me, Argentina”…a gente vai ficar bem e esperamos que você também fique, querida.

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