Na busca pela felicidade habita um dos maiores desejos subjetivos dos humanos. E se você quer saber como ser feliz, pergunte aos noruegueses, que seguem o conceito chamado ‘Friluftsliv’ para manter a saúde mental em dia.
A palavra de pronúncia difícil para os brasileiros surgiu em 1859 por meio do escritor Henrik Ibsen que abordou num poema a ideia de se isolar na natureza para clarear os pensamentos. Em tradução não exatamente literal, significa “vida ao ar livre”, que seria uma peça fundamental para alcançar a tal felicidade.
A natureza, de fato, tem efeitos curativos, seja pelo o que oferece por meio de plantas medicinais ou a simples água salgada do mar, utilizados como recursos terapêuticos e medicinais, ou pelo fato de prover efeitos de bem estar quase que imediatos.
O Friluftsliv, que significa algo como “vida ao ar livre”, é espalhado não apenas na Noruega, mas na Dinamarca e na Suécia.
Segundo o estudo Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America (PNAS), da Universidade de Stanford, mais de 50% da população mundial vive em centros urbanos e, portanto, mais afastadas da natureza. Estima-se que até 2050 o número pode chegar a 70%.
Os pesquisadores indicam que a desconexão com o meio ambiente e a urbanização estão ligadas à saúde mental, especialmente em pessoas com ansiedade e depressão, que são os dois grandes males do último século. Temos uma verdadeira epidemia negligenciada por muita gente e tratada com pouco caso.
Se o coronavírus mantém as pessoas presas em casa, bom…a depressão é capaz de fazer o mesmo, por anos a fio, e com consequências piores. Mas o assunto não é tratado na devida proporção de importância.
Historicamente, o povo nórdico sempre teve uma vida mais ao ar livre do que boa parte da população mundial. A quantidade de natureza intacta e as pequenas comunidades colaboram com a prática, é claro, além de outros fatores como os índices de igualdade e qualidade de vida no país.
Ao longo de 150 anos, a Noruega se empenhou para criar condições adequadas de acesso nas áreas naturais do país. Cerca de 250.000 voluntários colaboram para manter cabanas, pistas de esqui e caminhada em bom estado.
Escolas e cursos universitários incluem o conceito no seu dia a dia e também na grade curricular. Já as empresas flexibilizam os horários de trabalho para os funcionários dediquem parte do dia ao lazer. Algumas inclusive aplicaram bonificações para quem se desloca de bicicleta ou na base da caminhada.
O termo que se tornou parte da cultura norueguesa associa uma co-dependência entre humano e natureza como algo essencial para a vida. Junto ao termo finlandês “hygge”, que aborda a importância do conforto como meio de bem estar social, equivalendo ao norueguês “kos“, o Friluftsliv também entra como suporte básico para a vida cotidiana em harmonia.
Segundo a filosofia norueguesa, o fato de estar simplesmente em contato com a natureza é um estado de espírito, sem a necessidade de praticar uma atividade física ou de contar com aparatos tecnológicos. É uma forma de libertar-se do mundo externo, que fica pequenino diante da magnitude natural.
A partir dessa genuína imersão a pessoa é também capaz de acessar ela mesma, ou seja, de se ouvir, contribuindo com a saúde mental. É claro que a natureza não substitui uma boa terapia, especialmente porque o ser humano é complexo e não resolve seus problemas colocando a cara no sol. Mas a natureza é uma aliada contra os males da alma.
A felicidade pode morar numa caminhada de 90 minutos no parque, ou simplesmente no quarteirão, coisas mais possíveis para as pessoas que não vivem num país como esse. Acampar, fazer trilhas, contemplar a vista acima de uma montanha e tomar um banho de cachoeira estão entre as atividades incentivadas pelo Friluftsliv.
Mesmo se não há parques ou muito verde perto de casa, procure criar seu próprio meio de conexão. Fazer da própria casa um pequeno jardim botânico, mesmo que em vasos, ou plantar uma árvore na calçada já ajuda a abrir o espaço que faltava para se aproximar da natureza e ter boas doses de alegria ao longo dos dias.
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