Olá pessoal, hoje daremos um toque mais pessoal à nossa conversa, apesar de não ser o habitual do Quanto Custa Viajar, achei que a melhor maneira de começar seria me apresentando.

Eu sou a Camila Santos, Coordenadora do Projeto Na Estrada com as Minas e conversarei com vocês um pouco sobre como viajar com crianças pode ser maravilhoso, também aproveitarei para dar algumas dicas bônus de turismo no Rio de Janeiro.

Para começarmos nosso papo, gostaria primeiro de fazer-lhes um pedido: abra sua mente… Esteja disposto a receber essas palavras seja como sugestões, seja como reflexões. E assim então, comecemos do princípio.

Existe uma linha tênue entre felicidade real e imaginária e o “ser mãe”, condição imposta pela sociedade desde os primórdios da vida, é a situação que melhor exemplifica isso. Existe enraizado em nós, seres humanos, um machismo que nos fornece uma visão míope sobre a verdadeira face do que é ser responsável por outro ser humano.

Quando me descobri mãe recebi uma série de acusações e mau agouros que me fizeram refletir sobre o quanto estamos vulneráveis a palavras mal ditas e que existe a grande possibilidade delas nos derrubarem em cheio com um chute nos peitos. O que eu estou tentando dizer aqui, primeiro é: não existe isso de: “uma mulher só pode ser feliz, se for mãe”. Pessoas são felizes por vários motivos, por que conquistaram o tão sonhado prestígio profissional, ou por que abdicaram de uma vida de luxo para se doar ao próximo em um intercâmbio em outro país, seja qual motivo for, existe uma série de razões que tornam uma pessoa feliz e “ser mãe” pode ou não ser um deles.

Entendendo que as mulheres são condicionadas a acreditarem que ser mãe é o paraíso, eu já digo que não. Ser mãe é viver em uma montanha-russa de emoções que em grande parte do tempo você não conseguirá controlar. E o que podemos mudar com relação a isso, é a forma que conduziremos nossas vidas a partir da decisão de ser ou não responsável por outro alguém.

A minha decisão foi a de dar continuidade à uma gravidez que “surgiu” como uma luz no fim do túnel, e apesar de levar uma maternidade solo, regada de muito sofrimento e solidão, eu decidi mudar a minha perspectiva de vida.

Quando idealizei o Projeto Na Estrada com as Minas, a primeira rede colaborativa de mulheres viajantes, criei pensando em todas as mulheres que não eram apenas mulheres, eram também mães que me mandavam mensagens diariamente me parabenizando pela minha coragem de transgredir. Desde o nascimento da Clara, minha bebê, comecei a ocupar espaços que até então tinham uma proibição velada à mães e crianças, e comecei a perceber o quanto a sociedade nos limita e nos transforma em um único ser (mãe+filho). Nos tornando um só, onde um não é bem-vindo o outro também não entra. E existe forma mais eficaz de castrar uma mulher que acredita que seu filho é a razão de toda a sua felicidade, se não proibindo-o de entrar em algum lugar? Sentia a necessidade de mudar essa realidade, e por isso comecei a escrever, para que outras mulheres se inspirem a ocupar espaços que lhes são proibidos com suas crianças que estão muito longe de serem monstros repugnantes.

Então para começar bem o nosso relacionamento trouxe hoje, algumas dicas básicas e práticas para começar a se preparar para viajar com crianças e mostrar para as pessoas que, lugar de mulher é onde ela quiser, ainda que ela esteja com a sua criança!

DICA UM: PARE DE SE AUTO SABOTAR E REPITA ISSO COMO UM MANTRA

A primeira coisa que as pessoas fazem ao descobrirem uma gravidez é pensar no futuro destruído da pessoa que carrega a criança dentro de si. Pode até não ser de propósito, é algo que acontece naturalmente e quando elas percebem estão dizendo coisas como: “Mas você é tão nova”, “Vai ter que parar sua vida não é? Largar seus sonhos, a faculdade”, e eu te pergunto: por quê? Por que uma pessoa que se torna mãe, não pode também ser profissional, estudante, mulher? E a primeira pessoa que precisa saber disso é VOCÊ! Então não se auto sabote, se permita ser outra coisa além de mãe. Durante muito tempo isso foi algo absurdo para mim também, mas depois de muita reflexão iniciei um importante processo: o de desplugar da minha filha, que apesar de doloroso, tem sido fundamental para entendermos principalmente que nós não somos uma pessoa só. Somos duas pessoas que têm gostos, vontades e comportamentos totalmente diferentes e precisamos aprender a lidar com as nuances de cada uma, e que está tudo bem não vivermos 100% das nossas vidas coladas uma na outra. Aquele velho ditado que sua mãe, sua avó e sua bisa sempre repetiram, nunca fez tanto sentido: “a gente não cria filho pra nós, a gente cria pro mundo”. E está na hora de colocar em prática os ensinamentos de suas ancestrais – risos.

DICA DOIS: SE ANTECIPE (COMPRE O QUE FOR NECESSÁRIO ANTES DA VIAGEM E NÃO ESQUEÇA DE ECONOMIZAR)

Lembro-me que bem perto da Clara nascer, crescia em mim uma vontade incontrolável de desbravar o mundo e eu sabia que isso era algo que geraria muito desconforto em minha família e principalmente na sociedade, mas eu não me contive. Um pouco antes dela completar 04 meses eu havia decidido que viajaria com ela pela primeira vez. Então peguei todas as minhas economias e investi em uma mochila de 50L pensando na economia de malas que eu faria levando uma mochila só com tudo o que precisaríamos. Reforcei também o estoque de repelente, protetor solar, comprei as passagens e reservei o hostel com antecedência. Muitas pessoas usam o dinheiro como impeditivo para viajar com crianças, mas com um bom planejamento e se antecipando o máximo que der, é possível fazer uma viagem segura e se divertir muito com seu bebê.

Faz algum tempo que eu comecei a economizar também da forma mais tradicional possível, o famoso cofrinho agora faz parte da minha rotina. Eu comprei dois, um para as “moedas grandes” que é o meu cofre e um para as “moedas pequenas”, que é o cofre da Clara. Então todos os trocos de ônibus/metrô, de lanches, tudo o que sobra colocamos lá e gosto de fazer esse exercício com ela para ensiná-la desde cedo que economizar é mais fácil do que nós pensamos.

DICA TRÊS: NÃO TENHA MEDO DE PEDIR AJUDA

Uma das maiores lições que eu aprendi nesse tempo que tenho viajado com a Clara foi: apesar de algumas pessoas serem muito grosseiras no tratamento com crianças, a maioria é muito empática, então você perceberá que as pessoas ficarão mais solícitas e farão de tudo para tentar facilitar a sua vida, o que tornará sua viagem muito mais tranquila, ainda que você vá sozinha com a sua bebê. Então os motoristas esperam com mais paciência, os vendedores são mais cortês, as pessoas se oferecem para segurar sua mala ou até dão água para sua bebê enquanto a próxima parada não chega.

Viajar com ela me ensinou a ter fé que as pessoas podem sim ser boas, e me ajudou a construir a rede de apoio que eu não encontrei nas pessoas mais próximas à mim.

DICA BÔNUS: FALE, FALE, FALE, FALE SEM PARAR SOBRE SUAS EXPERIÊNCIAS

Viajar e viver novas experiencias sem dúvidas lhe fazem ter sentimentos e sensações incríveis, mas compartilhar com outras pessoas é essencial.

Desde quando comecei a escrever sobre as minhas experiencias com a Clara, senti uma leve mudança na vida de quem me rodeia e digo as pessoas mais próximas mesmo. É claro que é ótimo ler uma mensagem carinhosa de um seguidor dizendo que se sente inspirado por sua coragem e bravura, mas ver seus familiares e amigos se dando novas oportunidades, se descobrindo, experimentando coisas que eles nunca imaginaram que poderiam viver ou sentir só por que você começou, te faz ter uma força indescritível! Ver pessoas que você ama, que antes te consideravam louca e inconsequente, te admirando e abrindo a mente e se dando a chance de mudar de ares é impagável.

Bom, fico por aqui para não me alongar demais, mas voltarei logo com mais dicas e mostrando para vocês que viajar com criança é possível e pode ser melhor do que você imaginava!

Texto e foto por Camila Santos

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