Um dos lugares mais cobiçados da Bahia, Trancoso ainda mantém uma atmosfera hippie, mesmo depois de ser invadido por resorts e festinhas luxuosas. Isso porque a cidade a cerca de 600 km de Salvador se mantém com uma simplicidade visível, comércio rodeado de artesanatos em cada detalhe e praias que transmitem tranquilidade e contato com a natureza.
Pode até ser que Trancoso esteja na moda e bombe mais ainda no Ano Novo, mas fora de temporada, é uma paz só. Pequena, tem 278 km² e cerca de 12 mil habitantes, que tiram renda do artesanato e do turismo, a principal atividade econômica da cidade.
Estive por essas bandas em meados de julho e o movimento estava médio, apesar de ser mês de férias escolares. As praias não estavam abarrotadas de gente e, durante a noite, alguns restaurantes ficavam bem cheios, mas não a ponto de ninguém conseguir achar um lugar para ficar. Se for em outros meses, acredito que a cidade fique melhor ainda e com preços mais convidativos.
O que fazer
No charmoso Quadrado, uma grande praça que é ponto referência e centrinho turístico, rodeado de casinhas coloridas que acolhem lojas, bares, restaurantes e lanchonetes, é onde tudo acontece. O fluxo de pessoas é constante, seja sob a luz do sol ou do luar.
É ali que está, também, a paróquia de São João Batista, construída entre os séculos 17 e 18. De arquitetura simples, é um ponto não só para rezas cristãs mas para fotografias. Os cliques não param! Infelizmente, eu sempre perdia a hora de encontrá-la com as portas abertas, mas a igrejinha vale a visita. Atrás dela tem um gramado enorme, que fica cheio de bandeirinhas durante as festas de São João e, na frente, há um belo mirante, parada obrigatória para contemplação.
As praias são bonitas, rodeadas de vegetação, limpas e um tanto democráticas: reúnem todas as tribos. Próxima ao Quadrado, a Praia dos Nativos tem algumas pousadas famosas e bares animados, com gente bonita, cadeiras confortáveis e preços lá no alto. Mas, não deixe que isso seja um impeditivo se não for bem esse seu perfil, porque o melhor mesmo não é sentar nos bares e sim na beira do rio que deságua no mar, proporcionando água doce e rasa.
É uma delícia ficar por ali, com vista para o mar e um pôr do sol lindo. Dá para fazer passeio de caiaque, passando por um manguezal. Paguei R$ 25 reais por 1 hora, mas fiquei remando por aproximadamente 1h30 entre ida e volta, com paradas rápidas no meio do percurso.
A praia dos Coqueiros é a mais central, logo ao lado da Rio Verde, e reúne barracas com preços um pouco mais baratos. O mar é um tanto bravo e, para caminhar ou correr na areia não é tão agradável assim, pois é de tombo. Ou seja, prepare-se para gastar uns minutos a mais para chegar nas praias vizinhas, porque é desconfortável andar por ali.
Ao lado está Rio Verde, que é bem badalada durante a alta temporada e super tranquila fora dos períodos festivos. Também tem pousadas, clubs de praia e bares caros.
Em direção a Arraial D’Ajuda, a cerca de 3 km de Trancoso, Rio da Barra é um lugar tranquilo, deserto e um tanto selvagem. Há apenas um quiosque e uma pousada. São mais vazias e distantes também as praias de Praia de Itapororoca, acessível somente através de caminhadas, Ponta de Itaquena, que fica em uma área de preservação ambiental, e Patimirim, destino certo para surfistas e aventureiros.
E, uma das praias mais bonitas do mundo fica pelos arredores de Trancoso. É a praia do Espelho, parada obrigatória de quem vai para estes lados da Bahia. Sua beleza faz jus ao título, realmente. O mar é azul e fica em contraste com a areia branquinha e as falésias avermelhadas que estão no canto direito. Do outro lado estão bares, casas e pousadas de luxo. As árvores fazem sombra para quem quer fugir do sol e relaxar. O único problema que tive foi quando a fome apertou: acabei pagando R$ 18 pelo pastel mais caro da minha vida.
A vida noturna, porém, precisa de uma pesquisa prévia se o (a) viajante em questão é baladeiro (a), o que não é meu caso. O Café de La Musique é uma das principais casas noturnas da região e um tanto VIP, então prepare o bolso. O mesmo posso dizer dos bares a beira-mar, que têm noites com DJs. O Quadrado não é bem o que podemos chamar de “agitado”, mas é um bom passeio para o pré ou pós jantar.
Onde comer
A comida na Bahia é, na minha opinião, uma das melhores e mais saborosas do mundo. Os baianos sabem preparar os pratos com maestria, sem precisar de restaurante chique ou hotel de luxo. Em Trancoso come-se muito bem, apesar dos preços não serem dos mais baixos.
No café da manhã – ou da tarde -, se você não ficar em hotel, não terá tantas opções assim. Tem algumas padarias, como a Filadélfia, a Capixaba e a Paraíso dos Pães, mas acho melhor mesmo ir para alguma cafeteria. O café Joias de Minas é bem charmoso e serve pão de queijo recheado de vários sabores. O Santo Café é bem bonito, mas prepare-se para pagar R$ 8,00 em um pão na chapa.
No Quadrado, tem a cafeteria e hospedaria Santa Clara, super charmosa, mas é melhor para provar doces do que o café propriamente dito. Durante o almoço, indico o restaurante Rabanete. A comida é por quilo, bem variada, inclusive as sobremesas. Tudo delicioso e fresquinho! Não consegui almoçar em outro lugar porque gostei demais de lá, é um dos poucos que ainda estava servindo por volta das 15h e fiquei apenas dois dias na cidade.
O jantar foi no Bem Te Vi Burguer e Cervejas. É descolada, tem pegada gourmet e preços ok quando falamos em Quadrado. As cervejas artesanais não compensam porque o custo é astronômico, mas a carta tem boas opções. O hambúrguer demora um pouco para chegar, mas é gostoso e tem opção vegetariana (com cogumelo e pimentão). O lanche é grande e acompanha batata, então dá pra sair de lá satisfeita!
Para fugir do Quadrado e encontrar outras opções, é melhor ir para a Estrada de Trancoso (e seus arredores), uma via com bastante comércio, pizzarias, lojas, restaurantes variados (japonês, peruano, italiano, gaúcho…), farmácia, alguns serviços e pousadas. Foi andando por ali que encontrei a Pizzaria Bem Te Vi, que deve ser dos mesmos donos da hamburgueria, toda descolada, com bom custo-benefício e horário de funcionamento até 0h. Além de redondas, também serve carnes feitas na brasa.
Onde ficar
Trancoso é conhecida por suas pousadas boutique a beira-mar, cheias de celebridades no Réveillon, e pelo Club Med, um dos maiores resorts de luxo da Bahia. Mas também tem camping e hostel por lá, então os mochileiros podem encontrar um cantinho por lá.
Na baixa temporada, tem umas pousadas bem bacanas com diárias entre R$ 150 e R$ 200, como a Pousada Jambo e a Pousada Campestre. Muitos moradores acabaram transformando suas casas em hospedarias e eu acabei alugando uma – para falar a verdade, não me lembro bem o motivo.
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Pelo Booking, reservei a Casa Rústica, que é bem bacana, arejada, com área verde, garagem e não muito distante do centro. É uma linha reta para chegar ao Quadrado, por exemplo. Mas, infelizmente, não posso recomendá-la como se fosse a melhor opção, porque existem alguns poréns aí. Ela fica num beco chamado Rua das Flores, difícil de encontrar quando você não conhece a cidade! Mas até aí, tudo bem, a proprietária pode passar instruções.
O problema real é a localização. Existe uma igreja evangélica próxima, com cultos bem cedo pela manhã, e música alta. Fora isso, minha experiência não foi 100% por causa do vizinho, que simplesmente deu um surto e, não só quebrou coisas na sua casa, como assustou a vizinhança inteira. Foi surreal! Claro que isso não é culpa dos donos da acomodação em si e tudo nela funcionava perfeitamente, mas eu não repetiria a dose. Se quiser arriscar, a casa é aconchegante e acolhe até sete pessoas.
Como chegar
Uma das melhores coisas de Trancoso é o acesso. A partir de Porto Seguro, basta pegar uma balsa, que cruza o mar em 15 minutos, e depois seguir por uma estrada. Há placas de sinalização. Se não estiver de carro, pode pegar um ônibus da Viação Águia Azul depois da balsa, uma van ou táxi.
Se houver tempo, recomendo uma ida até as vizinhas Arraial D’Ajuda e Caraíva. Visitei as três cidades na mesma viagem e a distância entre elas é curta, porém, o caminho até Caraíva é bem íngreme, de terra e com trechos complicados de subir.
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Fotos: Brunella Nunes
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