Em março de 2018, a Mia entrou na minha vida e eu soube desde o primeiro dia que ela precisava estar preparada para viajar. Como tenho uma inquietude de mundo que já me levou a morar em algumas cidades, era inevitável que a vira-latinha medrosa que entrava para a família se acostumasse a este ritmo.
Foi assim que ela ganhou um microchip antes mesmo de aprender a fazer xixi no lugar certo, o que foi bastante útil quando decidi mudar de país no início de 2019 e trouxe ela na bagagem da minha mudança para a Espanha.
O procedimento é basicamente o mesmo para a maioria dos países europeus, com algumas pequenas mudanças dependendo do destino. Regra geral, os pets devem ter um microchip, ser vacinados contra a raiva, esperar 30 dias para a coleta da sorologia da raiva.
Depois disso, cabe aguardar 90 dias após o exame e, então, basta uma consulta veterinária e a emissão do Certificado Veterinário Internacional. Eu detalho todos esses procedimentos para levar um cachorro para Europa neste link.
Como levar seu pet para uma viagem internacional
É importante notar que cada experiência é diferente na hora de fazer uma viagem internacional com pets. O caso da Mia foi tranquilo, pois podíamos aguardar pela documentação dela para realizar a viagem e adaptamos nosso roteiro para ser o mais confortável possível para ela, incluindo cinco dias de stop over (com tour pelos cachorródromos) em Lisboa.
Fato é que a documentação canina ficou pronta bem antes do que os documentos da ala humana da viagem. Na Espanha, até impostos os mascotes são obrigados a pagar – e nossa cã está em dia com a Receita Federal, claro. Desde então, ela já passou 15 dias na França e está se preparando para uma road trip por Portugal.
Apesar disso, conversamos com outras pessoas que levaram seus animais para diferentes lugares do mundo e compartilharam suas histórias.
Desvios pelo caminho
Para Thais Michele Rosan, a dificuldade foi outra. De mudança para Exeter, no Reino Unido, para trabalhar na universidade e realizar um doutorado a partir de janeiro, ela vai levar junto Algodão, seu gato. Durante o processo, se deparou com a obrigatoriedade de enviar o animal através de uma empresa de cargo. O valor do procedimento é de cerca de R$ 9 mil. Graças a isso, decidiu mudar o roteiro e levá-lo pela França, por terra.
“O Reino Unido só permite entrada de animal por terra com pessoa física. Por via aérea, só com empresa de cargo (pessoa jurídica). A documentação para a França e o Reino Unido é a mesma, mas pela França o animal pode viajar com você. Depois para o Reino Unido vamos pegar um trem até Calais e, para atravessar o túnel, vamos precisar ir de taxi – não pode viajar no EuroStar. Depois trem de novo (risos)… Mas esse é o único jeito de não pagar a empresa de cargo“, conta.
Outro ponto destacado por ela é a dificuldade em obter a documentação necessária para o animal no Brasil, visto que há apenas um laboratório credenciado para fazer o exame de sorologia da raiva, obrigatório para a entrada de animais na Europa – e o custo somente deste exame é de cerca de R$ 900.
Thais também se preocupa com como será a sua chegada e a dificuldade de encontrar moradia. “É bem complicado achar, geralmente não aceitam pet. Ouvi dizer que algumas imobiliárias cobram a mais por ter animais“, comenta.
Para facilitar a adaptação nestes primeiros momentos, Algodão vai viajar alguns meses depois, em abril, com o marido de Thais. Enquanto esse dia não chega, ele já vai treinando seus miados com sotaque britânico.
Madonna vai morar na Itália
O publicitário Gregori Zanoni, 30 anos, também precisou enfrentar a burocracia ao se mudar para Gênova, na Itália, onde vive desde setembro para realizar o processo de reconhecimento de sua cidadania italiana. Na época, era para a cachorrinha Madonna se mudar com ele, mas a viagem foi adiada e ela devirá vir apenas em dezembro, ao lado do marido de Gregori.
“Como eu tinha que procurar casa e resolver algumas coisas, fiquei com medo de ser muito cansativo para ela e acabar tendo minha mobilidade limitada“, explica.
Madonna foi adotada em fevereiro de 2017, quando tinha três meses. À medida que o casal amadurecia a ideia de se mudar para a Europa, ela passou a ser uma das preocupações durante a viagem. “Inicialmente tínhamos pensado em deixar ela com a minha sogra, mas somos muito apegados“, diz.
Foi assim que os preparativos começaram ainda em janeiro de 2019. O tempo foi necessário para a microchipagem do animal, a realização da vacina antirábica e o exame de sorologia da raiva, que comprova que o animal desenvolveu os anticorpos necessários contra a doença e é um requisito para entrada de animais na União Europeia.
Gregori lembra que o único laboratório credenciado para a realização do exame no Brasil, o Tecsa, estava em processo de renovação do credenciamento, que havia expirado. Graças a isso, as amostras eram enviadas para laboratórios no exterior, o que encarecia ainda mais o processo.
O tutor fez questão de frisar que a documentação leva no mínimo quatro meses para ficar pronta. Quanto aos custos, ele estima ter gasto entre R$ 2.500 e R$ 3.000 para levar Madonna, incluindo exames, vacinas, consultas, caixa de transporte e passagem aérea.
Como escolher a caixa de transporte ideal para viajar com cachorro?
A chegada deve ocorrer tranquilamente. “A Itália em geral é um lugar pet friendly, inclusive eles podem andar na maioria dos transportes públicos de graça ou pagando metade da passagem, então encontrar uma casa que aceitasse o animal não foi problema, o problema maior foi encontrar uma casa sendo estrangeiro e não tendo comprovação de renda“, comenta Gregori.
De Curitiba para a Suécia
Quem vê Lebron brincando feliz na neve pensa que o cachorrinho da raça Westie terrier nasceu mesmo nas terras geladas da Suécia. Apesar disso, ele também precisou passar por toda a burocracia que envolve uma viagem internacional.
Para chegar em Estocolmo, o mascote angariou algumas milhas aéreas, voando de Curitiba para São Paulo, de lá para Lisboa e só então para o destino final, sempre viajando no porão.
“A veterinária dele me deixou muito tranquila quanto à questão de comida e água e quanto à temperatura em que ele iria viajar. Uma das nossas maiores preocupações foi que chegamos aqui no dia 22 de dezembro, no inverno… neve e muito frio“, conta a tutora Priscila Riccio Malucelli, que se mudou para Estocolmo ao lado da filha para acompanhar o marido que foi realizar um mestrado no local.
Ela lembra que a TAP, companhia escolhida para a viagem, informou que o animal não poderia viajar se a temperatura estivesse abaixo de -15ºC, visto que haveria risco de morte por congelamento. “Se fosse na cabine não teria essa restrição“, diz.
Apesar disso, Lebron não pode viajar na parte de cima do avião devido às restrições de tamanho da caixa de transporte. Como a lei indica que o animal precisa poder ficar em pé e dar uma volta em torno de si, o compartimento em que ele viajava excedia o limite de tamanho imposto pela companhia aérea, mesmo que o peso do animal estivesse dentro do indicado.
“Olha, a gente se assusta muito quando vai pesquisar sobre isso, mas tendo tempo e paciência consegue fazer sozinho!“, afirma Priscila. 🐶
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