Senhoras e senhores, preparem-se para uma viagem no tempo, com boas doses de nostalgia, cores vibrantes e turbulências psicodélicas. As companhias aéreas realizam voos comerciais desde meados de 1910, mas foi só depois de 60 anos que a diversão começou pra valer. Faz suas malas e vem comigo que no caminho eu te conto como era voar de avião nos anos 1970!
Enquanto os anos 1960 foram pra lá de glamourosos para quem voava, a década seguinte foi marcada por voos a jato, sem escala, assim sendo considerada a era de ouro da aviação. Apesar do avanço, o mais bacana mesmo era a extravagância. As aeronaves tinham cara de lounge de balada, algo bem distante do que o entendiante cenário que vemos hoje entre assentos apertados. Poltronas giratórias coloridas, boas doses de uísque, infinitos martínis, mesas de vídeo-game e uniformes pra lá de estilosos eram apenas uma parte do que era encontrado dentro das aeronaves. E, aparentemente, a festa estava pronta para começar a qualquer hora do dia!
A cena de descontração vista em fotografias era algo comum. Pudera! Os Boeings 747, mais modernos e já com piloto automático, eram equipados até mesmo com uma escada, que levava passageiros da primeira classe ao bar e restaurante. A Continental Airlines tinha um pub e a American Airlines fazia sucesso com seu piano bar onde era tocada música ao vivo durante o voo e, detalhe, na classe econômica! E, para completar o espírito de noitada, podia fumar dentro do avião. Tudo em nome do entretenimento e do conforto do passageiro.
O serviço de bordo também não era de se reclamar. Quem voou nessa época se recorda das memoráveis refeições, que incluíam buffets de café da manhã generosos, com frutas frescas, carnes bem elaboradas ao estilo churrasco e algumas coisinhas exóticas, como faisão, ave ornamental da mesma família do peru, servidos em louças.
Quem desfilava entre os ambientes eram apenas comissárias de bordo, com seus penteados maneiros e roupas bem menos caretas. Porém, as exigências das empresas aéreas eram o que podemos chamar de antiquadas nos dias atuais, embora nem tenham mudado tanto assim. Naquele tempo, a chamada “aeromoça” tinha que ter o segundo grau completo, em torno de 20 anos, ser solteira, bonita, agradável e caber num manequim de, no máximo, 38. Ah! E não podia usar óculos durante o trabalho também, então a visão tinha que ser, no mínimo, boa o suficiente para enxergar sem eles. Algumas companhias exigiam ainda peso e altura determinados, como fazia a Varig e a PanAm.
Algumas grifes famosas, como a Pucci, esporadicamente elaboravam uniformes para as aeromoças, aumentando ainda mais o status da profissão. Na época, havia muita publicidade e divulgação de todas as novidades das companhias aéreas, seja nas vestimentas ou na aquisição de novos Boeings. A série de TV Mad Men, que se passa em agências publicitárias entre 1960 e 1970, vem logo à cabeça ao olhar essas imagens.
A essa altura, você já deve imaginar que tudo na vida tem um preço. Os voos nessa época custavam muito, em torno de 40% a mais do que gastamos hoje (contando com inflação, troca de moeda, etc), e poucos podiam bancar esse luxo todo. Hoje, temos ótimas opções para quem pode (alô, Emirates!), mas é inimaginável pensar em um piano bar para a classe econômica. Pelo menos a gente pode sentar perto da janelinha e imaginar a vida mansa enquanto olha para as nuvens. Ainda não custa nada sonhar.
Uma escala na realidade
Com o passar dos anos, voar deixou de ser algo super exclusivo ou que eleva o status. Segundo uma análise do escritor Keith Lovegrove, autor do livro Style at 30,000 Feet, as companhias aéreas se tornaram mais democráticas e mudaram sua postura. Ele afirma que, de maneira geral, as aeronaves são mais homogêneas e neutras para atrair todos os tipos de público, mas ao mesmo tempo carecem de criatividade, caracterização própria e inteligência. Ainda assim, Lovegrove aponta que estar a 30 mil pés acima do chão não nos desconecta com o que é vivido lá embaixo. Os contextos socioculturais permanecem, os mesmos hábitos, prazeres e preconceitos. O avião nada mais é do que uma cápsula da sociedade.
Reativando os costumes setentistas, a TAP Portugal celebrou seus 72 anos de existência em grande estilo. No ano de 2017, um de seus aviões A330-300 foi adaptado para oferecer a passageiros do trecho Lisboa-São Paulo e Lisboa-Toronto um pouco da experiência de voar como antigamente. A equipe de bordo estava com uniformes coloridos, enquanto jogos e brinquedos da época entreteram os passageiros. Na primeira classe foi distribuído um kit pra lá de estiloso.
Outra que foi reativada para uma ocasião especial foi a Pan American World Airways, extinta desde 1991, deixando muitos saudosistas ao redor do mundo. Um deles é Anthony Toth, entusiasta da aviação e colecionador de itens da companhia. Junto da Air Hollywood, comandou uma ação que reuniu convidados especiais para sobrevoar Los Angeles no estilo anos 1970, ou seja, com muitas regalias! Os irmãos youtubers Vagabrothers fizeram um vídeo mostrando a experiência. A dupla estava junto com os pais, que viajaram muito durante a era de ouro. O resultado ficou bem bacana!
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Fotos: reprodução/arquivo Baniff, Pan AM e outras
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