Os efeitos do coronavírus na economia e na sociedade são desesperadores. Por outro lado, a natureza dá sinais de alívio. Os canais de Veneza voltaram a ficar cristalinos sem a presença massiva de turistas, que estavam sendo alvo de críticas e restrições em debates recentes.

As imagens que circulam nas redes sociais e na mídia são realmente impressionantes. As águas que fluem nos canais mais famosos do mundo seguem esverdeadas, porém numa cor visivelmente mais saudável e translúcida. Os moradores afirmam que a romântica cidade italiana está irreconhecível desde que a quarentena se instalou.

Com a ausência de pessoas, barcos e gôndolas circulando, é possível ver o fundo do rio dei Ferali a olho nu e até mesmo cardumes de pequenos peixes passando. Aves também fizeram uma reaproximação e passaram a ser mais frequentes na região de Burano, próxima a Veneza.

Tão bonito ver a água mais clara que parece até surreal.

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Os dados não foram confirmados, mas dizem que fazia pelo menos 60 anos que os canais de Veneza não ficavam claros assim. A informação e as fotos vieram do perfil Venezia Pulita, ou Veneza Limpa, em tradução livre, que aborda questões ambientais na cidade. O principal jornal da Itália, La Reppublica, também fez uma matéria sobre.

No grupo do Facebook, os moradores engajados no meio ambiente ficaram animados com a notícia, em meio à tristeza da quarentena. Membro do departamento de ciências ambientais da Università Ca’ Foscari, Alice Stocco compartilhou que estão recolhendo materiais para realizar um estudo aprofundado sobre sistemas sustentáveis para manter a água assim após a crise.

“Estamos vivendo um momento difícil, mas podemos usá-lo para documentar os lados positivos da quarentena para a proteção de Veneza”.

Gansos nadam em Burano – Foto: Marco Contessa

Uma análise da Agência Espacial Europeia (ESA) mostrou que a poluição do ar diminuiu consideravelmente no Norte da Itália. Outros países que enfrentam a epidemia do coronavírus, como a China, que é uma das mais poluídas do mundo, também já sentem o ar mais leve desde o isolamento das cidades afetadas.

Faz tempo que Veneza vinha estudando medidas para conter o overtourism, fenômeno contemporâneo de turismo de massa, que tem deixado algumas cidades ao redor do mundo superlotadas, superfaturadas e ambientalmente prejudicadas.

Dentro da corrida frenética por dinheiro e status do mundo capitalista ao extremo, Veneza gritava por socorro muito antes do coronavírus afastar a população.

Os moradores já estavam fartos de pegar filas desnecessárias e pagar contas mais altas, chegando a acontecer um êxodo considerável na cidade onde não entram carros mas atracam cruzeiros com até 2 mil passageiros.

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No auge de questões de sustentabilidade, parece até que o mundo foi obrigado a parar para a natureza não entrar em colapso a ponto de colocar toda a espécie humana em risco. Teorias e confábulações aparte, fato é que Veneza estava recebendo um total de 5 milhões de turistas em 2017. O local histórico tem em torno de 60 mil habitantes, então dá para imaginar o tamanho do impacto.

O setor de turismo é importante. Impulsiona a cidade a crescer e a manter sua riqueza histórica-cultural. Porém, os investimentos no setor exigem inteligência, estratégia, responsabilidade e projeção para um futuro mais promissor e saudável.

Quem sabe as águas cristalinas dos canais de Veneza consigam refletir às autoridades, empresários e visitantes que não dá mais para as coisas continuarem como estão. A crise e a pandemia vão passar. Mas será que a sociedade vai, de fato, mudar sua forma de pensar e agir?

Foto: Martina Bettoni

Foto em destaque na matéria: Marco Capovilla

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