Uma das melhores coisas de se viajar com crianças são as surpresas que a vida nos reserva. Imagine a situação; véspera de Carnaval e eu com a ideia fixa de que precisava conhecer algum canto de Minas Gerais, não sabia como, nem o porquê, mas sabia que precisava viajar urgentemente. Passei os 5 dias de festa trancada em casa adiantando alguns trabalhos e depois de ser convidada pela De Rolê por Brumadinho – agência que organiza passeios experienciais em Brumadinho/MG – para passar 4 dias em Brumadinho, fui correndo arrumar a mochila – com as minhas coisas e as da Clara-. Foi nessa viagem que eu percebi que minha menina tinha crescido tanto que uma mochila de 50L não era mais o suficiente para nós duas – aliás, preciso providenciar uma mala nova urgentemente!

Eu estava muito ansiosa por ser um lugar totalmente novo para nós duas e pela primeira vez, pegaríamos a estrada à noite, isso estava me preocupando um pouco também por uma série de motivos. No dia em que saí do Rio de Janeiro caiu um pé d’água tão forte que minha mãe queria que eu descesse em qualquer ponto da Dutra e voltasse correndo para casa, mas firme e forte nós seguimos rumo a Belo Horizonte. Como embarcamos bem tarde, a Clara dormiu a maior parte do percurso, o grande desafio dessa vez foi ir ao banheiro no Graal com ela dormindo no meu colo – dos perrengues que ninguém conta.

Chegando em “Beagá” às 9h, seguimos para encontrar o grupo de blogueiros que também haviam sido convidados para essa viagem, e de cara eu já fiquei feliz por ser tão bem recebida por todo mundo. Uma das minhas maiores preocupações ao viajar com a Clara é com como as pessoas nos receberão; as pessoas não estão acostumadas com uma criança circulando por “lugares que não são para crianças” – erradamente, nós sabemos – e isso é uma das coisas que venho tentando mudar em um movimento muito delicado, através de muito diálogo, ocupando espaços que antes eram “proibidos para as mães”. As pessoas precisam entender que quando elas “proíbem, ou reprimem” uma criança de ser criança em determinados lugares, elas estão vetando as mulheres que são mães dessas crianças de estarem também nesses lugares e não podemos aceitar isso. É um absurdo eu não poder ir a um restaurante legal com a minha filha por que alguns adultos esqueceram a educação que receberam dos pais em casa, por isso considero muito importante promover esse debate, mas isso é assunto para outra matéria! Voltando à viagem…

Dia 1 – Inhotim e jantar no Ponto Gê

Chegando em Belo Horizonte e após encontrar todos do grupo, seguimos rumo a Brumadinho, um município do estado de Minas Gerais, localizado na Região Metropolitana de Belo Horizonte, cujo a estimativa do IBGE, possui uma população de aproximadamente 38 863 mil habitantes.

Nos hospedamos no Hostel 70, um recanto hippie que fica no Centro de Brumadinho e que é administrado pela Nathália, uma das organizadoras dessa viagem. Nos instalamos no hostel e começamos a nos preparar para conhecer o Inhotim e já de cara enfrentei um novo desafio: ao chegar no hostel e nos instalarmos, fomos direcionadas para um quarto coletivo onde tinha uma hóspede, e eu confesso que passei o dia paranoica pensando em como eu dormiria a noite com uma estranha no quarto com a minha filha, mas tentei relaxar pelo menos pelas primeiras horas para aproveitar o dia.

Seguindo para o Instituto Inhotim, tivemos o prazer de conhecer o maior Parque-Jardim Botânico-Museu a céu aberto da América Latina e lá pudemos nos maravilhar com a exuberância do lugar. Brumadinho é muito conhecido por conta de Inhotim – muitos estrangeiros vão a Brumadinho para conhecer o Instituto que encanta por seu espetacular museu de arte contemporânea e também pela fascinante área verde e jardins que envolvem todo o parque fazendo dele um lugar único.

A Clara ficou maravilhada com todo aquele espaço para correr e brincar, apesar de mantê-la sempre à vista, deixei-a livre para ser criança, como era tudo muito novidade, ela ficou super animada e sempre atenta aos sons, as cores, quase não teve sono ou ficou enjoada, ela queria mais. Como o Museu é gigante – equivalente à extensão de 30 Maracanãs – eles disponibilizam carrinhos para o transporte dos visitantes – a Clara queria andar de carrinho toda hora.

O Instituto funciona de terça a domingo e a entrada custa R$ 44*, quarta-feira a entrada é gratuita (exceto feriado) e crianças de até 5 anos não pagam. O aluguel dos carrinhos gira em torno de R$ 30 com rotas pré-determinadas (crianças não pagam) e eles disponibilizam um carrinho exclusivo para aluguel também que gira em torno de R$ 500 para 5 pessoas /R$ 200 a hora. Vocês podem conferir outras informações no site do Instituto Inhotim.

Nossa visita foi toda guiada pelo Junior, o cara que conhece tudo do Instituto não só por estudo mas por ter vivido ali os primeiros anos de sua vida, antes até do Museu se tornar tão grandioso quanto é agora – recomendamos!

Lembrando que para visitar o Instituto você precisa estar munido da carteira de vacinação da febre amarela, se estiver com criança precisa levar a carteirinha dela além de documentos com foto. E não se esqueçam do repelente!

Após conhecer o magnífico Instituto Inhotim, fomos jantar no maravilhoso restaurante da Dona Gê, uma simpática senhora que transformou suas dores em força de vida e cozinha com tanto amor e simplicidade que encanta a todos que lhe vê sorrir.

Lá você pode experimentar uma típica comidinha caseira feita no fogão a lenha com um clima muito agradável de jantar em família. Não preciso nem dizer que a Clara adorou, não é? E ah! Não deixem de experimentar a Caipirinha de Ervas feita pelo esposo da dona Gê, eles são verdadeiros alquimistas na cozinha. O restaurante da Dona Gê fica na Rua Itaguá, 350 – São Sebastião – Brumadinho/MG

Dia 2 – Visita aos Quilombo Marinhos e do Sapê

Apesar de o Instituto Inhotim ser o grande chamariz para Brumadinho, a cidade esconde muitas outras histórias interessantes de serem ouvidas e vividas.

Nós tivemos a linda oportunidade de passar o dia no Quilombo dos Marinhos e pudemos conhecer um pouco da história e dos costumes daquela gente tão rica de tradições, garra e familiaridade. Uma das coisas que mais me tocaram nessa visita foi o quanto a Clara se reconheceu naquelas pessoas e se sentiu confortável, como se estivesse em casa. Acho que ser recebida tão carinhosamente pelo Senhor Cambão – pai do Rei – e ao comer o delicioso frango com ora-pro-nobris, angu, arroz e feijão da Dona Leide – matriarca da família – ela lembrou das delícias que a avó faz para ela com esse almoço com gostinho de casa. E reconheceu no Rei – líder comunitário – a referência dos nossos familiares, foi uma conexão incrível e uma das experiências mais inesquecíveis da minha vida.

Apesar de poucos conhecerem, Brumadinho é um lugar que abriga algumas comunidades quilombolas, iniciadas por pessoas que conseguiram escapar da Fazenda dos Martins, antiga Fazenda Boa Vista, uma das maiores de seu tempo na região. Lá existem 4 comunidades reconhecidas pela Fundação Palmares, sendo elas: os Quilombos Marinhos, Sapê, Ribeirão e Rodrigues. No entanto, existem outras comunidades que estão em processo de reconhecimento como, Lagoa, Casinhas e Massangano. O Rei – Reinaldo Santana Silva, ou o Rei Batuque, é o líder que promove junto de sua família várias atividades nas regiões através de seu projeto Batuque Natividade, e é a pessoa referência para todas aquelas famílias, por lá todos conhecem e admiram o Rei.

Uma coisa curiosa é que a comunidade é como outra qualquer – para a surpresa geral da nação –  feita surpreendentemente de casas de tijolos, como em qualquer lugar. Ainda existe no imaginário o pré-conceito de que uma comunidade quilombola é escondida na mata, com as casas construídas de barro ou sapê, as pessoas andam caçando comida e fazendo suas necessidades na mata. As pessoas ainda não sabem o que é de fato um Quilombo, do que aquelas pessoas são feitas e criam uma expectativa que não corresponde com a realidade, o que é extremamente perigoso. Por isso devemos tomar cuidado e ao visitar um lugar desses, precisamos ir como a Clara foi, livre de qualquer pensamento preconcebido, pronta para receber toda e qualquer informação nova com muito bom humor!

Esse assunto é tão gostoso de tratar que renderia um post inteiro só sobre essa visita, mas deixo para outro momento, sigamos!

Dia 3 – Peixe na Cachoeira dos Carrapatos

Para aproveitar em grande estilo o último dia, fomos conhecer a Cachoeira dos Carrapatos, que fica em Piedade do Paraopeba, um lugar muito tranquilo.

Eu estava muito animada para esse passeio, pois seria a primeira vez que a Clara iria em uma cachoeira e foi tão lindo quanto eu imaginei! Ela ficou deslumbrada. Quando chegamos ela não parava de perguntar onde nós estávamos e se o que ela estava vendo era um rio ou a praia. Quando eu disse a ela que era uma cachoeira ela fez que entendeu e desembestou a correr para entrar na água, se divertindo com a temperatura e a possibilidade de estar em um lugar totalmente novo. Foi inesquecível, eu nunca me senti tão feliz como naquele dia.

Para se chegar até a Cachoeira dos Carrapatos deve-se acessar a trilha do lado esquerdo da via principal, na direção de quem sai de Piedade do Paraopeba a caminho de Belo Horizonte.

Depois de todas essas aventuras e mais algumas outras, voltamos para o Rio de Janeiro muito mais unidas, felizes e completas!

E vocês? Quais foram os lugares mais mágicos que vocês visitaram com seus bebês? Conta pra gente aqui nos comentários.

Texto e fotos por Camila Santos

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