Uma das grandes vantagens quando se viaja ao Velho Continente é exatamente o que o apelido já propõe: voltar no tempo. Ou, ao menos, fingir que estamos longe do século 21, só por diversão mesmo. Com este intuito, vamos falar um pouco sobre os lugares para curtir a Belle Époque em Paris, período de muitas transformações e efervescência cultural dentro da Europa.
O período vai de 1890 e 1914, quando infelizmente é cortada pela Primeira Guerra Mundial. Essa fase é marcada pela valorização e florescimento total do belo, a semeação da paz, as novas descobertas e tecnologias, a ascensão do cinema, da Art Nouveau, do Impressionismo, do can can e dos cabarés.
A cidade Luz não brilhava, radiava. Durante os sete meses da Exposição Universal de 1900, Paris expôs ao mundo suas novas atrações e seus avanços nas mais diversas áreas, abrindo as portas de edifícios imponentes, a primeira linha de metrô e a estreia de projeção de filmes dos irmãos Lumiére, para citar só alguns exemplos.
Eis que, ainda hoje, é possível sentir o gostinho dessa época tão criativa e rica culturalmente, que mais parecia um mundo de fantasias intermináveis. Mas é preciso ter tempo e atenção aos detalhes, que fazem toda a diferença. Confira alguns endereços para incluir neste roteiro, que conta até mesmo a Torre Eiffel, inaugurada em 1899:
Onde ir
Comece o passeio pelo Castel Béranger, em Auteuil, que é “apenas” o principal representante do movimento Art Nouveau no país. Na sequência, siga para o Petit Palais e o Grand Palais, ambos inaugurados durante a Exposição Universal, assim como a antiga estação ferroviária onde fica atualmente o Musée d’Orsay, dono do maior acervo impressionista do mundo.
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Adentrando a arte do período, pode incluir na lista o Musée Rodin, que reúne vida e obras do maior escultor da época. Não deixe de caminhar por toda a elegância das passagens L’Arbre à Cannelle, onde há restaurantes de 1800, Passage Jouffroy, que é realmente como uma viagem no tempo, e de conferir uma peça de teatro ou apenas admirar o Théatre des Champs- Élysées, uma rara joia Art Nouveau parisiense.
Outro ponto crucial nessa jornada é o Le Grand Café, no Bd. des Capucines. O salão em seu subsolo abrigou a primeira sala de cinema do mundo, onde foi exibido o curta-metragem L’Arrivé du Train à la Ciotat (“Chegada do trem em Ciotat”). Os cabarés Le Chat Noir, Moulin Rouge e Folies-Bergères eram os chamados cafés-concerts, onde haviam espetáculos.
Para ter uma experiência a la Belle Époque, vá ao Lapin Agile, que ainda mantém a tradição, e ao Paradis Latin, com sala projetada por ninguém mais, ninguém menos do que Gustave Eiffel, que, como revela o sobrenome, é quem assina o projeto da Torre Eiffel.
Onde comer
A tarefa difícil é escolher qual restaurante ir na hora da fome. O Le Fermette Marbeuf encanta pela decoração Art Nouveau, com traços bucólicos e azulejos artísticos sob a luz natural que entra pela claraboia de 1898. Cenário típico de um filme ou algum editorial de moda antigo.
Com o orçamento mais enxuto, opte por uma ida ao Bouillon Chartier, uma das mais antigas brasseries de Paris, que ainda resiste ao tempo como um dos poucos bouillions da cidade. Seriam restaurantes onde come-se bem pagando preços modestos. Inaugurado e 1896, o espaço é extremamente nostálgico e atrai clientes há mais de um século.
Alguns anos depois, em 1902, o Bistrot du Peintre abriu as portas e ainda mantém intactos seus pisos, portas, janelas, os desenhos pelas paredes e a escada. Foi em meados de 1920 que também abriu o Le Select, um american bar que ficou hype após aparição no filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain.
Do início do século 20 até hoje, a Brasserie Julien ainda ferve. Frequentada por pessoas como Edith Piaf no passado, é um lugar glamouroso, cheio de detalhes que prezam pela beleza, como o mogno do bar, os azulejos, espelhos, molduras e ornamentos. Os vitrais de Louis Trezel no teto representam as quatro estações do ano através de desenhos de figuras femininas. Detalhes difíceis de se encontrar com tamanho primor nos dias atuais.
No bairro Marais, o pequeno e romântico bistrô Chez Julien também carrega algumas características da época. O Brasserie Bofinger tem um salão planejado também por Gustave Eiffel. Escritores, acadêmicos e políticos ainda vão ao local com certa frequência. Já a La Brasserie Mollard, aberta em 1865, é um bistrô cheio de detalhes históricos que captam a atenção de qualquer mortal.
Agora imagine se sentar no mesmo lugar onde grandes artistas e escritores como Paul Cézanne, Guillaume Apollinaire, Ernest Hemingway e F. Scott Fitzgerald frequentavam regularmente. Este é o La Closerie de Lilas, que segue recebendo pessoas com mentes afiadas desde 1847.
Onde curtir a noite
Havia ainda o La Pagode, um cinema independente sediado num palácio de 1896, que foi concebido como um “presentinho” extravagante de um empresário para sua esposa. Difícil era ser prestar atenção no filme, já que a arquitetura do lugar é de cair o queixo e com um belo jardim japonês na parte externa. Infelizmente, está de portas fechadas aguardando um novo dono que assuma a empreitada.
Ainda assim, há outra carta na manga. Com ou sem companhia, ninguém deveria deixar de ir ao Le Grand Rex, um cinema Art Déco aberto em 1932, período fora da Belle Époque mas que, pelo visual todo, vale a pena incluir. Se prefere teatro ou dança, não dispense os espetáculos do clássico Opéra Garnier, aberto em 1875. Aliás, seus entornos dizem muito sobre o período em questão.
Pós-cineminha, tome umas e outras no Le Fou, bar inspirado pela vida noturna do início do século 20. Sofisticado e ainda assim um tanto underground, abriga bandas de jazz em seu subsolo para shows em altas horas. A mesma atmosfera pode ser encontrada no Hemingway Bar, no Hotel Ritz Paris, que presta homenagem ao escritor.
Outro clássico de 1840 é o Lapérouse, um bar de vinhos que foi criado para homens casados, digamos, conhecerem mulheres interessadas em presentes e cortejos. Assim ganhou fama nos anos seguintes, mas hoje você também pode ir lá provar um bom vinho e degustar de um jantar no salão principal ou nas salas privativas. É, ainda é um lugar reservado e um tanto VIP, já que caiu nas graças das celebridades em busca de privacidade.
Se a preferência é não-alcoólica, vá ao Delaville Café, que já foi de tudo nessa vida, até restaurante chinês. A boa notícia é que se manteve boa parte da arquitetura original.
De dia ou de noite, dê uma passadinha no Le Train Bleu, bar e restaurante abertos em 1901 e renovado em 2014, com um visual que faz valer a pena a viagem toda. O teto é exuberantemente ornamentado com uma porção de detalhes, que alcançam as paredes e chegam até o chão. Construído sob uma antiga linha ferroviária, recebeu celebridades como Coco Chanel, Brigitte Bardot e Jean Cocteau na sua era de ouro.
Ah, e falando em vida noturna, é claro que vale a pena se programar para curtir os espetáculos de cabaré, que comentei sobre há alguns parágrafos acima.
Onde dormir
Depois de um longo dia, é hora do sono de beleza e de recarregar as energias, não? Charme não falta na hora de escolher o perfeito hotel a la Belle Époque em Paris, sejam os mais tradicionais ou os moderninhos que usam a essência da época.
Um deles é o divino Hotel Banke, que está sediado num edifício do início do século 20, onde se vê uma cúpula de vidro de 19 metros de altura, mosaicos, arcos e ornamentos. Para os mais moderninhos, melhor se hospedar no Hotel André Latin, que une traços da Belle Époque com o design contemporâneo, ou no Hotel Providénce, muito bem decorado, sem TV e um tanto excêntrico, com quartos equipados com um bar para fazer drinks.
Próximo ao Moulin Rouge, o Rotary Hotel é rodeado de boatos. Dizem que em 1900 sediava um bordéu, retratado em obras de Toulouse-Lautrec. Aliás, o artista aparece também nas paredes Art Nouveau do Hotel Saint Jacques, que até hoje abriga artistas, poetas e estudantes. Aproveite para folhear livros do século 18 na estante do lounge bar.
Já o Hotel Lanchester está todo trabalhado no luxo. Sediado numa mansão de 1889, mantém o visual vintage e conta com um restaurante estrelado pelo Guia Michelin. O clássico Hotel Raphael também faz jus ao estilo e exige um investimento mais alto na conta dos viajantes.
Onde comprar
No bazar Kata você encontra não só sapatos que podem custar 3 euros, mas também um fabuloso teatro de 1914, que está desativado, já que abriga a loja, e pôsteres de propaganda da Belle Époque.
Compre livros na Le Pont Traversé, que antigamente abrigava um açougue, antes de ser comprada pelo poeta e escritor Marcel Béalu. Pequenina, tem uma simpática fachada e um acervo de livros de arte, poesia e literatura francesa do século 20.
Às margens do Rio Sena, ainda hoje não é difícil encontrar pôsteres Art Nouveau e de espetáculos clássicos no Moulin Rouge ou Le Chat Noir, durante a Belle Époque. Para vasculhar outras coisas de época, visite as lojas e brechós de Montmartre e saiba mais no nosso guia de compras em Paris.
Para entrar no clima: assista ao filme Meia Noite em Paris, de Woody Allen, antes dessa jornada. O filme contextualiza muito bem os encantos parisienses, passando por sua música, arquitetura, artistas e boas histórias. A Rue Montagne Saint-Geneviève é uma das que mais aparecem no longa metragem, disponível na Netflix, então se joga! 😉
Há ainda muitos livros sobre a Belle Époque parisiense, como o Cafés, restaurants et salon de thé de la Belle Epoque à Paris, que reúne vários endereços interessantes na cidade, resgatando a atmosfera da Art Nouveau.
Post por Brunella Nunes
Fotos: divulgação
Amei! Que sonho <3