Enquanto em cidades como Londres e Nova York o grafite já fez a fama e deita na cama, aqui no Brasil seus passos são mais lentos e, infelizmente, alguns vão para trás. Embora a aceitação tenha aumentado bastante e esta seja a casa de alguns dos artistas de rua mais famosos do mundo, podemos dizer que este ainda é um ato de resistência. Para mostrar sua importância e impacto, selecionei 10 lugares para ver a arte urbana em São Paulo e aprimorar seu olhar.
Polêmica e grafite sempre andaram juntos. São quase como unha e carne, e assim coexistem entre espaço e tempo. De início, a rejeição. “Isso é coisa de marginal”, eles diziam. E os meninos com spray na mão corriam da polícia como se fossem verdadeiros criminosos. Depois a cena foi mudando, as cores foram brotando e até mesmo as galerias se interessaram por essa vertente artística. Arte? Sim. Urbana? Também.
A mais recente briga veio com a nova administração. Logo após assumir seu cargo como prefeito, o empresário João Doria tratou de gastar dinheiro público com tinta, muita tinta. Mas não foi bem em nome da arte e sim da “limpeza”, como ele mesmo alega. Os muros foram tomados pelo cinza que os paulistanos tanto xingam há anos. De novo, pela milésima vez, estamos nessa guerra de quem pinta mais: o grafiteiro/pixador ou o opressor. A Av. 23 de Maio, rodeada de paredões e viadutos, era uma explosão de cores e desenhos até esse ano chegar.
Antes do Doria
Depois do Doria
Assim sendo, e com o fato do grafite ser uma arte efêmera, é melhor você correr para conferir as belezas “não autorizadas” dessa cidade, que são muitas. Em praticamente todos os bairros é possível encontrar arte urbana, que passa pelas mais variadas formas, mensagens e paleta de cores. Algumas regiões, porém, tem murais mais concentrados e fáceis de encontrar. Então mãos à obra!
1. Vila Madalena
Figurinha carimbada na capital paulista, a Vila Mada é o antro de novidades e tendências, passando pelos bares, os hostels, as galerias de arte e os muros, que carregam inúmeras cores e nomes de artistas de rua. O trecho mais conhecido é o Beco do Batman (entre as ruas Gonçalo Afonso e Medeiros de Albuquerque), mas vale a pena percorrer também o Beco Niggaz (ou Beco do Aprendiz), Beco do Lira, a Praça das Corujas e os arredores entre as ruas Patápio Silva e Medeiros de Albuquerque, onde fica a galeria Choque Cultural, cheia de obras de artistas consagrados e iniciantes da arte urbana e suas vertentes.
O Quanto Custa Viajar esteve no último final de semana passeando pela Vila Madalena e conhecendo o Beco do Batman
2. Cambuci
Berço de uma das duplas mais famosas do graffiti, OsGemeos, o bairro do Cambuci segue “esquecido” pelos turistas, mas é um lugar histórico para a arte urbana. Ali estão alguns dos primeiros desenhos dos artistas, além de muitos outros, como Nunca e Nina Pandolfo, que fizeram dos muros do tradicional bairro seu canvas. Comece o passeio pela Rua Lavapés com a Justo Azambuja.
3. Bixiga
Ah, o Bixiga…esse lugar é especial. O reduto italiano e tradicional de São Paulo está cada vez mais colorido. Isso porque, além das antigas construções serem pintadas com cores vivas, os muros do bairro são “invadidos” pela arte urbana anualmente com o Dia do Graffiti, evento de rua que reúne grafiteiros, intervenções, música e outras manifestações culturais. Andar na Rua 13 de Maio e suas adjacentes ficou ainda mais agradável.
4. MAAU
Ao sair da estação Carandiru do metrô, uma surpresa: 33 colunas coloridas exibem obras de alguns dos principais artistas urbanos da cidade. O projeto do Museu Aberto de Arte Urbana começou em 2011 após a detenção de alguns grafiteiros no local, que não tinha autorização legal para se expressar com seus sprays. Então, após acordo com a Prefeitura, o coletivo formado por nomes como Chivitz, Binho Ribeiro, Minhau, Speto, Presto, Markone, Onesto, Zezão, Enivo e Highraff, mantêm a região muito mais viva e inspiradora, logo ao lado do Parque da Juventude.
5. Favela Galeria
No extremo oriental da zona leste de São Paulo está o bairro São Mateus, região periférica que carece de equipamentos culturais. Eis que, através dos próprios moradores, surgiu uma iniciativa que traz novos ares para a região. O coletivo OPNI começou a colorir os muros com desenhos inspirados em pessoas da vizinhança e passaram a convidar também alguns artistas de outras zonas da cidade para injetar arte no que antes era cinza. A diferença é tanta, que o grupo notou interesse de muita gente em pintar também e, quem sabe, se formem novos artistas.
6. Centro
A região central de São Paulo é um tanto caótica, mas mesmo com tantos defeitos, cabe muito amor em cada esquina. Alvo de pichadores desde que o spray chegou às mãos da moçada, os prédios. fachadas e muros do Centro também abrem espaço para os grafites, ganhando ainda mais notoriedade com a criação do O.bra Festival, focado em espalhar arte urbana neste trecho tão importante. Como diria Caetano Veloso: “Alguma coisa acontece no meu coração/ Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João/ É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi/ Da dura poesia concreta de tuas esquinas/ Da deselegância discreta de tuas meninas…”. Só andando por ali pra saber mesmo.
7. Pinheiros
Coladinho na Vila Madalena, Pinheiros é uma região bem bacana para quem curte andar a pé. É exatamente durante as caminhadas que se observam murais enormes de artistas como Eduardo Kobra, que diferente dos retratos coloridos e em homenagem à artistas, se vê bem diferente na Av. Brigadeiro Faria Lima, bem perto do Instituto Tomie Ohtake. Ali está uma das obras mais chamativas da capital, criticando as touradas e os rodeios. No Largo da Batata, colou cartazes lambe-lambe.
Já nas paredes laterais da loja da Fnac (Rua Pedroso de Moraes), sua marca registrada: retratos realistas de Chico Buarque e Ariano Suassuna em preto e branco, com um mix de texturas vibrantes por cima. O mesmo se vê na Rua Sumidouro, onde há o “Clube dos 27”, muro que retrata talentos falecidos aos 27 anos: Janis Joplin e Amy Winehouse, Jimi Hendrix e Jean-Michel Basquiat e Jim Morrison e Kurt Cobain. Já na Rua Harmonia, trecho da Vila Madalena, está o ex-sem teto Raimundo Arruda, retratado também por Kobra.
8. Vila Mariana
Com exceção dos moradores, poucos paulistanos se dão o trabalho de explorar a Vila Mariana, mas ali tem um terreno fértil para a criatividade. Entre os prédios residenciais e o comércio que vai do moderninho ao tradicional, o bairro está recheado de grafites, seja nos arredores do bar Veloso, onde há uma das coxinhas mais famosas (e saborosas) da capital, da Rua Joaquim Távora ou da Rua França Pinto, que tem uns murais bem bacanas já quase chegando na Av. Pedro Álvares Cabral. Outro ponto interessante da região, mais para o lado da Ana Rosa, é a Vila das Cores, uma simpática viela onde os grafiteiros fazem a festa.
9. Grajaú
Um dos mais distantes da região central de São Paulo, o Grajaú passou muito tempo de sua existência sendo mal falado. Mas o que poucos sabem é que ali está, talvez, o bairro com maior número de grafites por metro quadrado. Entre os destaques está o mural de Alexandre Orion, na parte externa do CEU Navegantes. Chamado de “Apreensão”, o desenho realista foi feito a partir de fuligem da própria cidade, por meio de uma técnica que mescla poluição e base acrílica incolor. Outro ponto alto é o mural feito por Enivo, no Parque Linear Cantinho do Céu, às margens da represa Billings.
10. Mooca
Com um passado industrial que ainda se faz presente, a Mooca é também um dos principais redutos de imigrantes de São Paulo. Isso tudo faz com que seja, também, uma das regiões mais tradicionais, onde boa parte da vizinhança é formada por vovós e vovôs. Mas os moderninhos enfim começaram a migrar para o bairro e criar novas atrações para chamar de suas, como bares, pizzarias e hamburguerias. Muitos muros, que antes estavam em situação lamentável, ganharam novas cores com ações de grafiteiros, cada vez mais presentes.
A antiga administração da Prefeitura, que incentivou esta vertente da arte, criou um roteiro de arte urbana, que está disponível gratuitamente aqui.
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Post e fotos por Brunella Nunes
*reprodução proibida
Valeu por divulgar a Vila das Cores, e fortalecer os diferentes circuitos de arte urbana de São Paulo.