Com a chegada de grandes redes em shopping centers, os cinemas de rua fecharam as portas e caíram no abandono. A solução pode ser resgata-lós ou reinventa-los, como é o caso do novo reduto nerd de SP, batizado de Arcade Omelete, dedicado a games, filmes e universo pop.

Depois de 20 anos esquecido em uma esquina eternizada pela MPB – a Av. Ipiranga com a São João -, o tradicional Cine Ipiranga já tinha corrido o risco de mudar de função, com o interesse de uma igreja evangélica no imóvel, assim como acontece em boa parte dos cinemas de rua do Brasil, que se transformam em entidade religiosa, estacionamento ou são impiedosamente demolidos.

O aluguel sobe e os fiéis que não dão mais conta mudam de endereço. A receita é praticamente a mesma nesses casos, afinal, diferente dos ensinamentos bíblicos, os preços em São Paulo não perdoam ninguém.

Foto: reprodução / Ipatrimônio.org

O Cine Ipiranga tinha em seu currículo salas reconhecidas pela acústica e técnicas de iluminação. Bem projetado, permaneceu exibindo filmes ao longo de 38 anos de existência, tornando-se símbolo resistência cultural. Fechou em 2005, quando a antiga administradora saiu de cena e então passou-se a especular se o local abrigaria igreja ou bingo.

O edifício projetado pelo renomado arquiteto Rino Levi em 1943 sediou grandes lançamentos cinematográficos, como Seis Destinos. Fez parte da história de muita gente que, na época, tinha o cinema como espaço de lazer e de namoro no escurinho. Quantos beijos roubados não couberam em seus quase dois mil assentos?

Foto: reprodução / Arquivo Arq

Por dentro, o belíssimo prédio tombado como patrimônio histórico carregava muita identidade e charme de sobra, com uma sanca meio futurista, pilares de dois andares, corrimãos metálicos e grades de ferro. A sala era cenográfica, projetada para impressionar, assim como acontecia em Hollywood nos anos 1940.

Foto: divulgação/Hotel Excelsior

Acima do Cine Ipiranga se erguia em 22 andares o Hotel Excelsior, também assinado por Levi com linhas modernistas e que chegou a ser um dos mais luxuosos da América Latina. Dos 200 apartamentos de origem, hoje são 186, em pleno funcionamento. A continuidade das atividades hoteleiras certamente garantiu um tanto de preservação ao cinema e ficará ainda mais valorizado com a reabertura do mesmo.

Foto: reprodução/Studio Mondo + MGóesAD

O novo reduto nerd de SP

Da parceria entre o empresário Facundo Guerra e do grupo Omelete nascerá o reduto nerd em SP, com o intuito de unir várias paixões que envolvem doses de cultura e tecnologia, sem deixar de lado a alma da Cinelândia paulistana. A reestruturação ficará sob comando dos escritórios de arquitetura e design Studiomondo + MGóesAD.

Não dá pra trazer um cinema de rua de volta com cinema, porque mudou muito a maneira como consumimos audiovisual nos dias de hoje. E qual a indústria que juntou todas as formas de arte em uma única plataforma? Sim, o game. O game hoje não é mais uma caixa de nerds: ele é um lugar onde existimos. Todos somos gamers hoje em dia, e faltava um lugar pra celebrar essa paixão comum” – escreveu Facundo.

Na telona haverá exibições de filmes e séries clássicas do universo geek, como Star Wars e Game of Thrones. Mas não se limita a isso, reunindo ainda uma programação focada em games, realidade virtual, fliperamas, HQs, exposições temáticas, música e cosplay, assim como acontece na Comic Con Experience, evento de grande sucesso promovido pelo Omelete.

Foto: divulgação/Arcade Omelete
Foto: divulgação/Arcade Omelete

Com recursos hi-tech e muito neon, o centro de convivência deve abrir em 2020.

Foto: reprodução/Studio Mondo + MGóesAD

Facundo garante que o reduto nerd em SP voltará a ser um templo, só que a religião é outra: devotos de São Kubrick. Os nerds e agregados poderão sentir na pele o que diz a música de Caetano Veloso: alguma coisa acontece no meu coração, que só quando cruza a Ipiranga e Av. São João. É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi, da dura poesia concreta de tuas esquinas…”

Foto: reprodução/Studio Mondo + MGóesAD
Foto: reprodução/Studio Mondo + MGóesAD
Foto: reprodução/Studio Mondo + MGóesAD

Para matar as saudades hoje

Logo em frente ao Cine Ipiranga – na Av. Ipiranga, 757 – está o Cine Marabá, inaugurado em 1944. Era um dos membros da Cinelândia Paulistana e exibia especialmente os filmes da companhia Vera Cruz, uma das mais conhecidas do país, que lançou o ator Amácio Mazzaropi, campeão de bilheteria na era de ouro do cinema nacional.

Foram 63 anos em atividade, sem interrupções. Passou por um breve fechamento em 2007 e, por sorte, reabriu em 2009 após um restauro de R$ 8 milhões feito pela PlayArte. Os arquitetos Ruy Ohtake e Samuel Kruchin ficaram responsáveis pelo redesenho do cinema, que agora conta com cinco salas.

Foto: reprodução/Wikipedia

Por estar no Centro da cidade, o Marabá exibe filmes atuais e mais populares, destinados à toda a família. Quando os títulos não são nacionais, são geralmente dublados. Filmes da Marvel e da Disney costumam estar sempre em cartaz, além de comédias brasileiras.

Atualmente está em exibição Star Wars: Episódio IX tanto dublado quanto legendado. Quem quiser experimentar o cinema de antigamente, pode curtir uma ida ao saudoso Marabá. Os ingressos custam de R$ 12 a R$ 32, dependendo do dia da semana e do tipo de entrada.

Foto: divulgação/PlayArte

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