Existe uma atmosfera diferente em Itacaré, cidade ao Sul de Salvador, na Bahia. De alguma maneira, o refúgio a beira-mar na Costa do Cacau remete à famigerada ilha de Bali, na Indonésia, ainda que mais rústico e menos luxuoso. Um lugar meio hippie, meio desapegado, meio místico. Mas com uma diferença crucial: deliciosamente brasileiro.
Talvez para sentir na pele o que estou falando seja necessário fazer o mesmo roteiro, mas se o intuito principal for relaxar e aproveitar o melhor da vida, a viagem definitivamente não será em vão. Há quem chame Itacaré de “Havaí brasileiro” também. Para ir além do que aparenta ser um típico destino potiguar, é necessário mergulhar de cabeça em Itacaré, se aprofundar e ter tempo suficiente de descobertas.
O local virou point de surfistas a partir dos anos 1980 e ainda não caiu nas graças do turismo massivo a ponto de mudar radicalmente suas peculiaridades. Entre trilhas em matas exuberantes que levam à praias escondidas, mais ou menos desertas, cachoeiras, passeios de canoa rumo ao por do sol no Rio de Contas e saborosos drinks de cacau, fica fácil se apaixonar pelo município.
Guia de Itacaré
Assim como todo destino litorâneo, Itacaré se destaca pelas agradáveis e belas praias. Uma das principais é a Tiririca, na qual surfistas literalmente tiram onda. Ali, o esporte é assunto sério, visto que é considerado o melhor pico de surf da Bahia, sem indicação para iniciantes. Tem duchas de água doce e um bowl de skate para quem é do asfalto.
Não distante dali está a praia da Ribeira, que é ideal para famílias que necessitam de uma maior infraestrutura. É pequena, muito bonita, pois é abraçada pela vegetação nas duas pontas, contando com um trecho de riacho onde crianças brincam tranquilamente, tirolesa e quiosques. As ondas mais tranquilas favorecem surfistas iniciantes.
Saindo do centro, as praias vão ficando ainda mais bonitas e inóspitas. É o caso da Prainha, cartão postal da cidade. Chegar lá é uma tarefa e tanto, passando por trilha no meio da mata, com trechos mais íngremes e complicados aos desacostumados. Além disso, carece de sinalização adequada, confundindo um pouco quem vai sozinho.
O caminho, porém, inclui belas vistas para o mar. A prainha de surfistas tem apenas uma barraca, que vende água de coco, bebidas e frutas, e possui ducha e banheiros. A tranquilidade e o visual compensam todos os esforços.
Se quiser visitar a luxuosa e exclusiva Vila de São José, logo ao lado, opte por um passeio de barco. Tem Day Use no restaurante São José, com acesso à piscina beirando o mar. A praia é bonita, rodeada pelos típicos coqueirais, mas quem quiser espiar a Prainha sem ter que passar pela trilha, este também é o caminho. VIP, mas é.
Outro ponto imperdível é a praia de Jeribaçu, acessada por uma trilha que tem um dos mirantes mais bonitos do estado. O encontro do rio com o mar, sempre bonito de ver, é um dos atrativos, além de boas ondas para a prática do surf. O local é completo, contando ainda com um manguezal, a cachoeira da Usina, barracas e trilhas para outras praias.
Com uma trilha mais tranquila, Havaizinho atrai bastante turista e, apesar do nome, não é bem um pico para surf. É uma praia pequena, marcada por recifes invadindo a areia e por suas maravilhas naturais.
Dali há uma trilha para a praia de Itacarezinho, que também engana pelo nome, já que é uma das maiores da região. Conta com boa infraestrutura, com quiosques a beira-mar, chuveiros, banheiros, uma cascata natural, boas ondas no mar e áreas para a prática de mergulho.
*Tome nota: caso você dirija, a melhor coisa a se fazer em Itacaré é alugar um carro para acessar as praias distantes do centro, que contam com estacionamento. Também é possível contratar motoristas e guias locais. Eles provavelmente não te deixarão ir embora sem uma passadinha no mirante de Serra Grande, que mostra os encantos quilométricos da faixa litorânea de Itacaré.
Depois ou durante o tour pelas praias, é bem provável que você seja apresentado à rua Pedro Longo, a Passarela da Vila. É a concentração de bares, restaurantes, lojas e serviços, que não por acaso fica movimentada durante o dia todo. Difícil é desviar das barracas de drinks ao longo do percurso, que colocam o cacau como protagonista em saborosas caipirinhas, uma benção e uma tentação constante em noites acaloradas.
Nos comércios, vale a pena olhar produtos locais artesanais, como itens de beleza e bem-estar, decoração, acessórios e biquínis.
Outra opção para curtir o burburinho diurno ou noturno é Pituba e a Orla, que também reúnem entretenimento, gastronomia e compras, porém a passos mais largos do que na passarela.
Por fim, a melhor maneira de se despedir de Itacaré é curtindo o inesquecível por do sol na Ponta do Xaréu, com vista para o Rio de Contas, as praias da Concha, Pontal e Coroinha. Coisa de filme mesmo, que emociona. É daqueles momentos que fazem a vida valer a pena e a viagem valer cada centavo.
Experiências fora da rota
Assim como Bali, Itacaré também é atraente para a geração wellness. No meio da mata tropical se escondem retiros espirituais, espaços para vivências agroecológicas e gastronômicas, fazendas e plantações de cacau.
A The Soulful Kind organiza uma porção de atividades com maior ou menor duração em Itacaré, incluindo aulas de yoga, surfe, escaladas na praia, tintura natural em tecido, culinária vegana e ensina até a fazer chocolate.
Os curiosos, entusiastas e adeptos da ayahuasca encontram um espaço seguro para experimentação no Spirit Vine Ayahuasca Retreat. O retiro de 9 a 11 dias inclui cerimônias com o santo-daime, aulas de yoga, workshops espirituais, hospedagem e comida vegana. Focado no bem-estar, o centro não permite o uso de bebida alcoolica, tabaco e drogas no recinto.
Já o famoso Txai Resort se tornou conhecido pelo Spa Shamash Healing, considerado um dos melhores do país para tratamentos de bem-estar. Um deles é o Ritual Costa do Cacau (R$ 360 por pessoa), que durante 1h45 oferece um ciclo de cinco práticas para ativar a circulação, relaxar o corpo e renovar a pele. Nibs de cacau e óleo de coco estão entre os ingredientes naturais utilizados.
A fazenda ecológica de cacau orgânico e reserva da Mata Atlântica, Pedra do Sabiá, recebe visitas e hóspedes para imersões na natureza e em si mesmos. A programação se baseia em retiros voltados para autoconhecimento, meditação, práticas espirituais, corporais e ambientais. Os valores são bem acessíveis.
Mas, se espiritualidade não é a sua vibe, é possível fazer um passeio à Fazenda de Cacau Vila Rosa, que apresenta um tour temático e exibe a fabricação do chocolate, permitindo degustação de alguns itens. O casarão colonial às margens do rio também apresenta relíquias históricas.
Por fim, fica a dica de passeio de barco até a Ilha de Camamu, já em Barra Grande. A linda baía a 55 km de Itacaré engloba manguezais, ilhotas, cachoeiras, praias, florestas e uma pitoresca cidadezinha. Paisagens espetaculares e pouco exploradas, do jeitinho que a gente gosta.
Onde comer em Itacaré
- Orla 55: ótimo lugar para curtir o final da tarde ou sair a noite. O bar anexo ao hotel Vila Barracuda é charmoso, descontraído e com mesinhas na calçada. Serve petiscos, pizzas napoletanas, bowl de frutas, drinks e vinhos. Recomendo muito o Mel de Cacau Gin Frozen, refrescante mistura de mel de cacau (iguaria da região) e gin, finalizado com raspilhas de limão e nibs de cacau.
- Jiló Bar e Restaurante: Itacaré tem uma autêntica cozinha brasileira contemporânea no Jiló, restaurante de clima intimista de frente para a praia. O chef Icaro Rosa prepara carnes e peixes na brasa, além de pratos sem proteína animal, como é o caso da lasanha recheada de cogumelos frescos na manteiga, molho funghi e salada de cogumelos crus.
- Restaurante Manga Rosa: colorido e criativo, o restaurante fica na travessa mais badalada da cidade. O cardápio tem forte presença de ingredientes regionais, como banana da terra, frutos do mar e carne de sol. Foi lá que provei o arroz de açaí, nutritivo e interessante.
- Ola Café: servindo café da manhã e jantar, o charmoso espaço tem opções saudáveis, vegetarianas e veganas. Da cozinha saem tigelas com fartos cremes de frutas ou saladas, risotos, bruchettas, torradas, pães de fermentação natural, jarras de sucos e drinks.
- Mico Doce: a enxuta delicatessen serve iguarias europeias e americanas para acompanhar um cafezinho. Croissants, medialunas, facturas, alfajores e empanadas estão entre as especialidades.
- Alamaim: comida árabe vegetariana é a especialidade do restaurante, que serve pratos com uma pegada natural e saudável. A melhor pedida para provar um pouquinho de cada coisa é o Mix Árabe, com saladinha, falafel, hommus, tabule, arroz e pão sírio caseiro. Outra opção é o Labane, sanduíche recheado com coalhada seca, berinjela frita e tomate envolto em lafa, pão árabe feito todos os dias. Não deixe de provar o lassi da casa.
- Barbato: aberto apenas durante a noite, o speakeasy reúne cervejas artesanais, chopps da bahia, frozens e cachaças especiais. Entre os drinks surge novamente o mel de cacau, acompanhado de maracujá, capim limão, cachaça e água de coco. O cardápio vai mudando ao longo dos dias, então consulte no Instagram antes de ir.
- Cabana Aloha Surf: de frente para a Praia Tiririca, o aconchegante quiosque ajuda a matar a fome de quem passou o dia na praia. Entre as opções, tem ceviche, lagosta, camarão servido no coco verde, porções e pratos feitos.
- Restaurante Manguezal: quem passeia pelo Rio de Contas pode parar neste restaurante quando a fome apertar. Ali é servida comida caseira de qualidade, como é o caso da moqueca de robalo ao molho de camarão rosa, e do filé de bijupira assado na folha de bananeira. Um banquete delicioso, com visual deslumbrante!
Onde ficar em Itacaré
- Arte na Mata: este é um baita lugar para desapegar dos luxos urbanos, descansar e curtir a natureza em sua plenitude. Os rústicos chalés em estilo asiático se espalham por um enorme terreno com vista para o mangue, o Rio de Contas e um por do sol lindo. A pousada, comandada por um solícito e conhecedor marinheiro, conta com piscina, espaço para meditação e yoga, uma pequena biblioteca e área para refeição, sempre caseira e saudável. Passeios e traslados são bem organizados pelo anfitrião.
- Pousada Tãnara: bem centralizada, a pousada fica colada na praia da Tiririca e oferece ótimo custo-benefício. Erguidos em madeira, pedra e alvenaria, os quartos mais altos lembram uma casa na árvore, com uma varanda agradável, cama confortável e espaço suficiente. É ideal para casais que trocam facilmente uma piscina pelo mar, localizado virando a esquina.
Outras opções
- Barracuda Beach Hotel ($$$$$)
- Itacaré Eco Resort ($$$$)
- Pousada Villa Maeva ($$$)
- Pousada Raio de Sol ($$)
- Hostel dos Guris ($)
Como chegar
A maneira mais prática de chegar a Itacaré é pelo aeroporto de Ilhéus, a 310 km de Salvador, que é a cidade grande mais próxima. As companhias aéreas Latam, Gol e Azul são as mais frequentes em voos, partindo de São Paulo, Belo Horizonte e Salvador.
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Quem vai por vias terrestres precisa seguir rumo à Itaparica de ferry boat e depois pegar a rodovia BA-001. De ônibus, o percurso é feito pela Companhia Águia Branca.