A 150 metros acima do nível do mar se “esconde” um lugar que tem, talvez, a melhor vista panorâmica de Santos. É o Monte Serrat, acessado por um bondinho movido a tração, que está em funcionamento desde meados de 1920. Subir a encosta a bordo de um desses é um atrativo único no país.
O funicular, que seria um elevador ferroviário, mais conhecido do mundo é provavelmente o Ancesor da Bica, em Lisboa. Sucesso garantido entre os turistas, é um dos meios de transporte mais antigos da cidade e funciona atualmente de forma elétrica.
No Brasil houve poucos exemplares do tipo, mas uma coisa é certa: o Monte Serrat tem bastante história para contar. Em meados do século 17, a formação natural servia de abrigo à população, que mantinha túneis e esconderijos para se proteger de invasões piratas na antiga vila.
A vista panorâmica também ajudava a vigiar a orla contra ataques holandeses. Em 1614, invasores foram soterrados tentando subir o morro e o episódio, tido como “milagre”, trouxe à tona Nossa Senhora do Monte Serrat, padroeira da cidade litorânea, cultuada especialmente na pequena paróquia que fica no alto da colina, construída há mais de 400 anos.
Porém, não houve intervenção divina que protegesse Santos de uma catástrofe. No dia 10 de março de 1928 aconteceu um deslizamento de terra na face Norte do monte, causado pela instalação de pedreiras e agravado pelas chuvas de verão. Dos escombros da tragédia se totalizou 81 mortes e sete sobreviventes, além de aproximadamente 200 feridos.
Foi um episódio bastante traumático para a região, deixando uma cicatriz no Monte Serrat. A partir de então, a fiscalização das encostas passou a ser reforçada e até hoje, com a incidência de chuvas, há deslizamentos nos morros santistas, permeados por ocupações irregulares. No período chuvoso, especialmente no mês de março, os locais entram em estado de atenção, portanto é melhor evitar o passeio.
O planejamento do sistema de bondinhos começou em 1910, mas com a Primeira Guerra Mundial, surgiram dificuldades de transportar o material de construção, oriundo da Alemanha. Os planos foram então retomados em 1923 pela sociedade Anônima Elevador Monte Serrat, fundada por imigrantes espanhóis.
Inaugurado em 1927, o funicular vermelho sobe a enorme ladeira durante quatro minutos, levando até 45 passageiros.
Não é rápido, nem lento. E dá um pequeno frio na barriga antes mesmo que comece a se mover. Mas assim que o vagão inicia a partida de 250 metros de extensão, a diversão começa e você já não sabe mais para onde olhar, pois há tantos detalhes para ver durante o percurso.
Lá no topo existia um luxuoso cassino, que funcionou por 19 anos, recebendo políticos, pessoas influentes e da alta sociedade. Na época, os bondinhos eram até mesmo fechados com cortinas, para preservar a privacidade dos boêmios à caminho de uma festinha ou de uma apresentação de ícones como Carmen Miranda, que fez shows ali.
Depois de abrigar um cinema, funciona como espaço para eventos, culturais ou sociais desde o final da década de 90. Os amplos salões ainda conservam a arquitetura e decoração da época, incluindo o mobiliário. Materiais nobres entram na composição dos ambientes, como vitrais belgas, mármore Carrara, cortinas e tapetes franceses, prataria e cristais europeus.
No térreo está uma cafeteria para reabastecer as energias dos visitantes após a subida com um bocado de emoção. Não há nada muito elaborado ou gourmet, apenas opções simples do dia a dia. O café espresso e o cappuccino custam R$ 4 cada.
É possível andar por todo o edifício, observar a maquete que reproduz o pitoresco lugar, espiar o maquinário do bondinho em funcionamento e admirar a vista de tirar o fôlego, que pega parte do porto de Santos e dos municípios vizinhos, São Vicente, Cubatão e Guarujá.
A capela de Nossa Senhora do Monte Serrat costuma ser o ponto final de uma peregrinação. Uma escadaria de 402 degraus e 14 nichos reproduzindo cenas da Via Sacra serve não apenas como alternativa ao funicular, mas também para “pagar os pecados”. Anualmente, no dia 8 de setembro, quando se celebra a santa protetora dos navegantes, centenas de fiéis de reúnem para encarar a subida e agradecê-la.
A construção de 1599 foi descaracterizada ao longo dos séculos, mas após obras de restauro em 2011, voltou a ter a mesma configuração do século 18.
Vai lá no Monte Serrat!
- Onde: Praça Correia de Mello, 33 — Centro — Santos, SP
- Preço: R$ 44,00 por pessoa para subir e descer; R$ 22,00 para subir de escada e descer de funicular. Moradores pagam tarifa social, equivalente ao valor do ônibus municipal. Grátis para crianças até 8 anos, desde que acompanhadas de um adulto pagante.
- O estacionamento é gratuito.
- Funcionamento: todos os dias, das 10h às 18h, com saídas a cada 60 minutos (válido durante o período de restrições devido à pandemia de Covid-19).
Em Santos, vale a pena incluir uma parada no Museu do Café. Saiba mais clicando aqui!
Todas as fotos por Brunella Nunes/reprodução proibida
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