No dia 4 de julho de 1930, o imigrante grego George Stathakis decidiu descer as Cataratas do Niágara de barril ao lado de sua tartaruga Sonny. Seu corpo foi encontrado sem vida 18 horas depois, mas o animal sobreviveu à queda.
A tragédia não foi sem precedentes, mas a história da dupla é ainda mais fascinante do que parece. Antes de conhecer todos os pormenores deste intento suicida, convém descobrir mais sobre o estranho fascínio que as Cataratas do Niágara, ou Niágara Falls, exercem sobre os aventureiros.
George não foi a primeira pessoa e não seria a última a descer as Cataratas do Niágara de barril. Tentativas similares, com ou sem êxito, são registradas desde 1901, quando uma mulher foi proclamada “Heroína das Cataratas do Niágara“, sendo pioneira a concluir a aventura com vida.
Descer as Cataratas do Niágara de barril
Se você foi criança um dia, é provável que já tenha assistido muitas vezes o episódio em que o Pica-Pau faz de tudo para descer as Cataratas do Niágara de barril. Na animação, ele é detido diversas vezes por um guarda, que tenta proibi-lo de se atirar pelas corredeiras – e todas as vezes é o oficial quem viaja de barril por acidente pelo ponto turístico.
Para um espectador desprevenido, é fácil supor que o episódio de Pica-Pau trata-se de uma brincadeira. Quem imaginaria que um desenho animado tão absurdo poderia ser baseado em histórias reais? Bom, é exatamente o que aconteceu e serve como uma homenagem a todos aqueles que fizeram a arriscada viagem pelas corredeiras na fronteira entre o Canadá e os Estados Unidos.
Não sabe sobre o que eu estou falando? Deixa eu refrescar a sua memória com este que é um dos episódios mais famosos do desenho.
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Rainha do barril: ela foi a primeira pessoa a conquistar as Cataratas
A tradição começa com Annie Edson Taylor. Professora aposentada, ela pensou que poderia angariar algum dinheiro caso descesse as Cataratas do Niágara de barril.
Foi aí que, em 1901, pegou seu barril feito de carvalho e ferro e se jogou nas corredeiras. Na mesma data, ela completava seu 63º aniversário e sabia exatamente o que tinha que fazer: um evento público para mostrar a todo mundo sua conquista.
Dois dias antes da histórica descida, um gato foi jogado pela corredeira para testar o barril de Annie. Como ele sobreviveu, todo mundo achou “normal” deixar um humano repetir a experiência.
A professora desceu as cataratas sendo assistida por vários repórteres e turistas. Seu barril tinha um truque: estava forrado com um colchão e, segundo o jornal La Nación, tinha uma bigorna de 45 km no fundo, para oferecer mais equilíbrio e permitir que ele se mantivesse em pé. Com seus 63 anos, Annie não dispensou a companhia de uma almofada da sorte, em formato de coração.
Rainha, ela saiu ilesa da descida que durou cerca de 20 minutos. De recordação, ficou apenas um pequeno corte na cabeça e o título de primeira pessoa a completar a experiência com vida.
Apesar do feito, Annie nunca conseguiu muito dinheiro com isso. Embora os lucros fossem seu objetivo inicial, parece que o mundo ainda não estava preparado para admirar uma mulher tão destemida.
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Primeiro homem a descer as Niágara Falls de barril
Dez anos se passaram até que o primeiro homem fosse capaz de sobreviver a uma queda semelhante à de Annie, em 1911. O também americano Bobby Leach desceu as corredeiras em um barril de aço, com menos sorte do que nossa pioneira.
Embora tenha sobrevivido, Bobby quebrou o maxilar e duas rótulas dos joelhos, sendo hospitalizado por seis meses após a aventura.
Conta a lenda que, antes de empreender sua viagem pelas cataratas, ele havia sido proprietário de um restaurante e costumava se gabar para os clientes dizendo que qualquer coisa que Annie pudesse fazer, ele faria melhor.
Ironicamente, a história provou que o homem estava errado…
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Mortes nas Cataratas do Niágara
Nos anos seguintes ao feito de Annie (e ao de Bobby) diversas pessoas tentaram a sorte descendo as Cataratas do Niágara de barril. Infelizmente, nem todos os aventureiros sobreviveram à tentativa como os precursores desta história.
Cerca de 5 mil corpos já foram encontrados nas Cataratas do Niágara entre 1850 e 2011. A conta inclui acidentes ocorridos no local, aventureiros e pessoas que se suicidaram nas águas. Entre os destemidos que tentaram conquistar as corredeiras, a taxa de mortalidade chega a 25%.
O barbeiro inglês Charles Stephens fez sua descida em 1920, em um barril russo de carvalho e é considerado a primeira pessoa a morrer usando um barril nas Cataratas do Niágara.
Como essa história é cheia de ironias, ele conseguiu a fama que buscava. Seu feito foi contado em um dos capítulos do programa “As Mais Estranhas Formas de Morrer“, do Discovery Channel.
Diferentemente dos intrépidos pioneiros, Charles decidiu não testar seu barril antes de se lançar às cachoeiras. Mais do que isso, ele colocou uma bigorna no fundo do barril para equilibrá-lo, assim como Annie havia feito, e a amarrou em seus pés…
Infelizmente a bigorna rompeu o fundo do barril com o impacto com as águas na base da catarata e levou o aventureiro consigo. Charles Stevens desapareceu assim como grande parte do seu equipamento. As equipes de resgate conseguiram encontrar apenas o seu braço direito.
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George Stathakis e a tartaruga que sobreviveu à queda
Em 1930, foi a vez de George Stathakis tentar a sorte descendo as Cataratas do Niágara de barril.
O imigrante grego trabalhava como cozinheiro, mas também era místico e se autodenominava como filósofo. Um exótico de carteirinha, ele afirmava que havia nascido “há mil anos nas margens de um rio na África Central”.
Antes da empreitada, George havia lançado seu primeiro livro: “The Mysterious Veil of Humanity through the Ages” (algo como “O Véu Misterioso da Humanidade através dos Tempos”). Na obra, ele dialoga com filósofos gregos como Platão e Aristóteles.
O escritor também sustentava que, em outra vida, havia estado no local onde hoje se encontram as Cataratas do Niágara, antes que elas fossem formadas. Foi então que decidiu usar a queda d’água como uma forma de angariar fama e dinheiro para lançar seu segundo livro, conforme conta a Today Magazine.
Para a empreitada, foi construído um barril de quase 1 tonelada. George e sua tartaruga Sonny se lançaram à aventura, mas não sem que antes ele deixasse informações importantes sobre o que poderia acontecer.
Segundo o grego, caso apenas Sonny sobrevivesse, ela “revelaria o segredo da viagem no momento apropriado”. Isso, claro, porque, segundo o aventureiro, sua tartaruga de cerca de 150 anos sabia falar.
Infelizmente, o barril de George Stathakis ficou preso atrás da cortina de água no momento em que ele desceu as Cataratas do Niágara. Ele não pode ser removido durante 18 horas e, como o ar que carregava era suficiente para apenas algumas horas, o filósofo se tornaria a segunda vítima fatal das cachoeiras.
Sonny, a tartaruga, sobreviveu à queda, mas nunca revelou o segredo da viagem. Provavelmente, o momento apropriado para fazê-lo não chegou antes de sua morte, ocorrida no ano seguinte.
A proibição de descer as Cataratas do Niágara
Em 1951, o Parque Nacional do Niágara decidiu proibir de vez as descidas pelas corredeiras sem permissão. Na época, o crime era punido com uma multa de apenas US$ 100.
Hoje, a sanção começa em US$ 10.000, o equivalente a mais de R$ 50 mil. Os aventureiros também podem enfrentar penas de até seis meses de prisão.
Apesar disso, a lei não impediu uma série de destemidos de continuar arriscando a vida ao descer as Niágara Falls. Mesmo com o regulamento em vigor, Nathan Boya, Karel Soucek, David Munday e vários outros sobreviveram à queda, mas arcaram com as multas ou temporadas de encarceramento.
Felizmente, não é preciso arriscar a vida para ver o lado mais bonito das Cataratas do Niágara. Você pode encarar um tour saindo de Buffalo, NY, ou planejar a viagem por conta própria, usando nosso guia que reúne todas as dicas para montar o roteiro.
Parabéns, excelente página.
É cativante a forma com que conta os fatos.