Trabalhar à distância é uma tendência mundial. E agora, no surto de coronavírus, mais do que inovador, o recurso se tornou necessário. Para inspirar seu home office e tornar seu dia produtivo, que tal espiar a rotina de grandes pensadores, como Charles Darwin e Franz Kafka?
Apesar de ser um dos assuntos mais falados do momento, o home office, que nada mais é do que trabalhar de casa e não no escritório, ainda é desconhecido e desconfortável para muitas pessoas. Outras, porém, estão bem interessadas em aprender como se organizar para produzir com mais qualidade, sem que ruídos externos atrapalhem o que deve ser entregue.
O site Daily Routines pode te dar uma luz, aquela luz que faltava para você brilhar. A página basicamente mostra como pessoas famosas criativas, entre escritores, artistas, filósofos, arquitetos e músicos, dividem as atividades ao longo do dia. A iniciativa se inspirou no Daily Rituals, livro e pesquisa de Mason Currey sobre os rituais diários por trás das mentes brilhantes.
Tais profissões são mais solitárias e exigem uma imersão maior em seu próprio universo para acessar melhor a potência para criar. Assim, é bem interessante notar como cada uma delas encontrou os melhores horários para dormir, comer, produzir, se exercitar e ter momentos de lazer. Essas são coisas que só conseguimos aprender ao longo da grande jornada do autoconhecimento, que vale para a vida toda.
Claro que nem todo mundo trabalha no campo da criatividade, mas todo mundo vai precisar dela em algum momento porque a inventividade é parte da natureza humana e diria que eventualmente vai ser cobrada no seu trabalho à distância. Infelizmente, isso costuma ser exercitado apenas na infância por boa parte da população, mas não é um dom; é um hábito.
A questão maior é que se existem condições de criar espaços na agenda para colocar em prática cada tarefa do dia, o ideal é que você saiba quando cada uma delas será feita da melhor maneira. Essa é a chave para a organização de um trabalho mais produtivo, com qualidade e sem estresse.
Fato é que existem mil conselhos para que o home office seja incrível e seu dia perfeito. Mas o que ninguém conta é que, como seres humanos complexos e diversos, não funcionamos da mesma maneira e tampouco iremos ser nossa melhor versão seguindo um comportamento padrão.
É aí que as divergências entre as rotinas dos grandes pensadores da humanidade podem te levar a caminhos mais assertivos.
Disciplina é uma busca constante
Disciplina é a chave para o sucesso? Sim. Mas não só isso, porque o dia nem sempre flui na maneira como gostaríamos e aí a disciplina tem de se adaptar às variadas situações de mundo. É preciso que você descubra algumas coisas até que consiga exercer a autogestão da forma que te favoreça e logo se descobre que não há necessidade de nenhum coach para falar isso.
Dentro do Daily Routines, vamos pegar como exemplo Maya Angelou, grande escritora e poetisa norte americana. No gráfico, podemos observar que ela dorme das 21h30 às 05h30, toma café da manhã por volta das 6h e fica, entre 7h e 15h, trabalhando em sua valiosa escrita.
Fato curioso é que ela se hospeda num hotel de maneira anônima para conseguir colocar seu ofício em prática. Essa foi provavelmente a melhor maneira que ela encontrou de mergulhar em seu potencial criativo. Repare também que Maya não fica engessada no horário comercial, mas que criou sua própria carga horária de forma mais qualitativa.
Então durante 6h do dia ela simplesmente faz o que deve ser feito, no lugar onde se sente mais produtiva, que, no caso, não é em casa. Diante de uma pandemia, situação atípica, certamente você terá que adaptar isso para algum cômodo da casa, mesmo que seja a varanda.
Agora vamos à rotina de Franz Kafka, filósofo que explorou temas bem contemporâneos em suas obras, como alienação e medo. Nosso pensador nascido em Praga viveu entre 1883 e 1924, deixando um legado de ensinamentos. Para ele, o dia não funcionava de forma padrão. As madrugadas eram para produzir, ou seja, escrever.
Muitos escritores amam a calada da noite exatamente por isso: não há tanta interferência externa; há menos ruídos e uma imersão aconchegante em seus próprios pensamentos. Kafka tinha problemas para dormir e dividia os momentos de sono: descansava entre 6h e 9h; e entre 15h e 19h30.
Ele também trabalhava fora, entre 8h30 e 14h30. Reservava ainda um pouco de tempo para almoçar, jantar, caminhar e se exercitar. Você pode pensar que não era muito saudável a rotina dele, inclusive pelo crime de pular o delicioso café da manhã. Não é que o filósofo tinha uma vida perfeita, mas nota-se que sua rotina era funcional, ajustou-se à sua maneira de viver.
Frustrado com seu trabalho diurno e seus aposentos, Kafka escreveu em carta para Felice Bauer, em 1912, um sentimento que toma conta de muita gente em momentos desesperadores:
“O tempo é curto, minha força é limitada, o escritório é um horror, o apartamento é barulhento e se uma vida agradável e honesta não é possível, é preciso tentar se esquivar com manobras sutis.”
Sigmund Freud, Gustave Flaubert, Pablo Picasso e Mozart são outras figuras notáveis que não seguiam uma rotina padrão de acordar pela manhã para trabalhar e usar a noite para descansar.
O trabalho era sempre dividido em duas partes, duas janelas de horários ao longo do dia e não em uma só, como pede o horário comercial, das 9h às 18h, com apenas 1h de pausa para engolir o almoço. Convenhamos, o horário comercial é exaustivo e realmente ninguém fica esse tempo todo super focado e dando o melhor de si. Fica aí a reflexão para as empresas!
Os pensadores incluíam ou incluem outras atividades no meio do que deveria ser feito. Alguns chegam a trabalhar mais de 8h, é verdade. Só que ter equilíbrio e saber quando será mais proveitoso fazer determinada tarefa é fundamental, mesmo que depois você trabalhe horas a mais, mas com mais prazer.
“Eu nunca poderia ter feito o que fiz sem os hábitos de pontualidade, ordem e diligência, sem a determinação de me concentrar em um assunto de cada vez.” — Charles Dickens
Como ajustar a rotina no home office
E como isso tudo pode te ajudar? Bem, talvez você esteja com dificuldades de focar, talvez esteja procrastinando ou ainda se adaptando a essa modalidade de trabalho. Primeiramente saiba que: tudo bem. Faz parte do processo. Agora evite cair na armadilha de repetir processos que definitivamente não dão certo pra você.
Algumas dicas podem te ajudar a descobrir como os rituais diários devem te favorecer e não te atrapalhar. Se você é uma pessoa que odeia bagunça, já sabe que não irá conseguir se concentrar totalmente no trabalho se a casa está desorganizada. Então organize tudo antes de trabalhar. Se for preciso acordar mais cedo, acorde, mas já tire os pequenos obstáculos do meio do caminho.
“Sinto que preciso tirar um cochilo depois do almoço”. Ok, se organize para isso ao invés de passar a tarde se sentindo uma alma miserável e sonolenta carregada pela culpa. O despertar pode te trazer a energia que faltava para seguir com os afazeres.
Vamos supor que um belo dia você percebe que lá para as 17h está com o trabalho fluindo bem e que provavelmente vai esticar até às 20h, por que então não parar após o almoço para fazer outras coisas da vida ao invés de fingir que está trabalhando até às 17h, quando realmente começa o seu expediente “interno”? Imagina o tanto de horas desperdiçadas nesse processo de “empurrar com a barriga” achando que é sua obrigação estar ali, em frente ao computador.
Se você não trabalha dentro de um horário exigido pela empresa, não há regras do que deve ser feito ao longo da sua rotina. Cabe a você descobrir, ajustar e decidir. E se há um horário pré-determinado pela empresa, tente ao menos organizar o que e quando serão feitas as outras tarefas do seu dia, como se exercitar, ter lazer, cuidar da casa, passear com o cachorro ou dar atenção aos filhos.
A pressão por ser multitarefa é grande, mas a culpa por não dar conta de tudo pode ser ainda maior. Fuja do sentimento que te atrapalha, te desmotiva e suga suas energias.
Determinando o momento, o “quando” de cada coisa, talvez você não seja levado pelo pior tipo de home office: aquele que te prende numa constante cobrança de entregar resultado e que faz trabalhar para além das 8 horas sem a menor necessidade ou aquele bônus no final do mês.