“Não esteve em Paraty aquele que não tomou ao menos um gole de uma das suas cachaças”
Paraty é a cidade que permaneceu intacta ao longo dos anos. Cidade de praias belíssimas e ilhas ainda mais. Polo de turismo nacional e internacional. Famosa pelo clima cosmopolita de lugar que recebe visitantes de todo o mundo, pelos seus festivais nas ruas do centro histórico e por sua culinária única, repleta de sabores e de influências, tanto do mar quanto da mata local.
Ao chegar à cidade o visitante é levado imediatamente para um mundo de serenidade e nostalgia. Esse é o clima da cidade que foi uma das primeiras produtoras de um patrimônio histórico e cultural do Brasil: a cachaça. A história de Paraty é tão intimamente ligada à da cachaça que seria impossível contar uma sem incluir a outra, nem que de forma sucinta.
Lá no começo do século 16, antes da cana de açúcar chegar ao Nordeste – onde depois a produção de açúcar se tornou a maior fonte de renda da região – as primeiras mudas de cana foram plantadas no Brasil na capitania de São Vicente, instalada no Sudeste. E pertinho dali, estava Paraty. Na época ainda era um pequeno povoado agregado à Angra dos Reis, e com a expansão do ciclo fluminense de açúcar adotou a cana como principal atividade econômica.
Por causa do clima ameno e das constantes chuvas o plantio de cana não teve tão sucesso em Paraty, pois resultou em uma produção muito cara e em pouca quantidade. Mas, mesmo assim, o plantio não cessou. Foi por volta de 1530 que os primeiros litros de aguardente foram produzidos na cidade.
Com a fermentação dos restos da cana-de-açúcar moída e fervida, começou a ser produzida uma bebida de sabor forte que servia como “alimento” para os escravos e senhores de engenho, e que logo caiu no gosto dos moradores do pequeno povoado. Em Paraty e em todo o Brasil, a aguardente além de amenizar as dores do trabalho, ganhou outros usos, até medicinais: repelente, antisséptico, anestésico.
Tomava-se cachaça com mel e alho para curar a gripe. Para o fígado, cachaça com jurubeba. A popularização da bebida junto da necessidade de aumentar a rendas nos engenhos aumentaram a produção da aguardente, se tornando a principal atividade da região. Indícios históricos afirmam que, no século 17, havia cerca de 200 engenhos e alambiques em Paraty.
A queda da cachaça
A construção da estrada de ferro que ligava diretamente o Vale do Paraíba ao Rio de Janeiro, em 1877, e o final do período de escravidão, foram fatores decisivos na decadência econômica da cidade. Paraty aportava muitos navios negreiros e usava a aguardente produzida na cidade como moeda de troca na África. Assim se inicia a fase de isolamento e declínio, que resultou na falência de grande parte dos alambiques e que deixou a arquitetura intacta.
E não foram só os monumentos históricos que foram preservados. As manifestações culturais também sobreviveram.
Foto Milton Jung
A cidade moderna
Foi só nos anos 70, com a construção da BR101, que a chegada de turistas a Paraty reaquece o centro econômico e a cidade volta a investir em suas construções e no mercado de cachaça. É interessante perceber que a fase mais decadente se tornou a mais importante para o momento atual. Que graças ao seu isolamento foi possível manter as ruas de pedras e os seus sobrados do século 18.
Os alambiques que haviam sido vendidos ou abandonados são recomprados e voltam a fabricar o produto que é genuinamente local e a cachaça novamente se torna a principal bebida da cidade. Hoje, ainda, não existem tantos produtores de aguardente como antigamente, mas aumentar esse número não é necessariamente a intenção da população ou da Apacap – Associação de Produtores e Amigos da Cachaça de Paraty.
A cachaça artesanal não é voltada para uma grande produção, mas sim, para um ciclo de qualidade e reconhecimento, que relembre memórias do passado. Cerca dos 200 mil litros que são produzidos, ao ano, em conjunto com todos os alambiques são voltados para o mercado local, seja ele turístico, seja ele doméstico.
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Texto por Daniela Fescina
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